CÓPIA DO TESTE

Tradução, adaptação e validação feita por este Laboratório de Pesquisa em Saúde Mental (LAPSAM) e publicado no seguinte artigo: Bandeira, M. e Bekou, V. , Lott, Teixeira e Rocha (2002). Validação Transcultural do Teste de Orientação da Vida (TOV-R). Estudos de Psicologia, 7(2), 251-258.

 

CONSTRUTO AVALIADO

O teste de Orientação da Vida, TOV, cujo nome original em inglês é "Life Orientation Test"ou LOT (Scheier & Carver, 1985, Scheier & Carver, 1992) visa medir o construto de orientação da vida, referente à maneira como as pessoas percebem suas vidas, de uma forma mais otimista ou menos otimista. Este construto foi definido em termos das expectativas que as pessoas possuem sobre os eventos que ocorrerão no futuro em suas vidas. Este conceito está inserido na teoria de auto-regulação do comportamento, desenvolvida pelos mesmos autores, segundo a qual as pessoas lutam para alcançar objetivos quando elas acreditam que estes objetivos sejam possíveis e que suas ações produzirão os efeitos desejados nesta direção (Hjelle, Belongia & Nesser, 1996).

O TOV se correlaciona com medidas de outros conceitos correspondentes, tais como auto-estima, locus de controle, auto-eficácia, estilo atribucional e neuroticismo, mas o conceito de percepção otimista da vida, medido através do TOV, se diferencia destes outros conceitos, como um fator distinto, tal como tem sido evidenciado através de pesquisas desenvolvidas com o objetivo de confrontar estes diversos instrumentos (Scheier & Carver, 1992; Scheier et al., 1994).

 

CONTEXTOS DE UTILIZAÇÃO DO TOV

Contexto Clinico: O TOV tem sido utilizado principalmente no contexto clínico. Pesquisas têm relacionado a orientação otimista da vida com o bem estar psicológico e físico das pessoas, com a presença de comportamentos de manutenção da saúde e com a capacidade das pessoas de enfrentamento ("coping") em situações estressantes (Scheier & Carver, 1992; Scheier & Carver, 1987). Uma orientação otimista está relacionada com saúde física e mental, enquanto que uma orientação pessimista da vida se relaciona com depressão, ansiedade e prática de comportamentos de risco. Estudos prospectivos tem mostrado, por exemplo, que o pessimismo constitui um fator preditivo de depressão pós-parto. Do mesmo modo, observou-se uma relação entre o construto de orientação otimista da vida e a adaptação de pacientes cardíacos em situações de recuperação pós-operatória, em uma pesquisa prospectiva. Pacientes cardíacos que haviam apresentado anteriormente maior grau de otimismo, medido pelo TOV, obtiveram uma melhora pós-operatória mais rápida, em termos de indicadores fisiológicos e comportamentais (Scheier & Carver, 1992). Foi observado igualmente que o grau de otimismo, medido pelo TOV, foi preditivo do nível de adaptação ao diagnóstico e tratamento de câncer de mama (Carver et al. 1994).

Contexto educacional: O conceito de orientação otimista da vida tem sido igualmente estudado na contexto educacional, tendo sido relacionado com a capacidade de adaptação e desempenho escolar. Um nível baixo de otimismo foi preditivo de dificuldades de adaptação ao ambiente acadêmico, em estudantes universitários, em termos de sintomas depressivos, sentimentos de solidão e sintomas de estresse, ao longo do primeiro ano do curso, assim como menor desempenho acadêmico nos anos posteriores ( Scheier & Carver, 1987; Vickers & Vogeltanz, 2000). Scheier et al. (1994), em um estudo transversal de uma amostra de estudantes universitários, encontraram que um maior grau de otimismo era preditivo de menor grau de sintomas depressivos, medido através do Inventário de Beck. Vickers & Vogeltanz (2000) confirmaram estes dados, em um estudo longitudinal, tendo observado que o grau de otimismo apresentado por estudantes universitários foi preditivo de menor grau de sintomas depressivos apresentados após 10 meses.

Otimismo e "Coping": Há algumas evidências de que o estilo de enfrentamento ("coping") intermedia a relação entre o grau de otimismo e o bem-estar físico e psicológico. Estilos diferentes de enfrentamento tem sido relacionados a pessoas com diferentes níveis de otimismo. Pessoas mais otimistas apresentam estratégias adaptativas de enfrentamento de situações adversas, em um estilo ativo de enfrentamento ("active copers"). Por outro lado, pessoas pessimistas apresentam um estilo de enfrentamento caracterizado pela evitação ("avoidant copers"), incluindo uma negação da situação real e um desengajamento da situação, em termos de uma ausência de ações concretas para resolver a situação (Scheier & Carver, 1992).

Otimismo e locus de controle: Alguns estudos relacionaram o conceito de otimismo com o conceito de estilo de atribuição, este último derivado de um modelo cognitivo (‘Learned helplessness", Seligman, Abramson, Semmel & von Baeyer, 1979), segundo o qual as explicações causais que as pessoas adotam a respeito de eventos passados em suas vidas influenciam suas expectativas em relação a eventos futuros. Atribuições de que eventos negativos possuem causas internas, estáveis e globais estariam relacionadas a uma orientação pessimista. Ao contrário, atribuições de eventos negativos a causas externas, instáveis e específicas estariam relacionadas a uma orientação mais otimista. A diferença entre estes dois conceitos é que o TOV avalia as expectativas das pessoas em relação a eventos futuros e a medida de estilo de atribuição avalia as explicações causais das pessoas em relação aos eventos. As avaliações destes dois conceitos têm apresentado correlações moderadas, indicando que se trata de conceitos correlatos porém distintos (Scheier & Carver, 1992).

 

PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS DO TESTE ORIGINAL

O teste TOV original, de língua inglesa, foi submetido a uma revisão recentemente, tendo sido então denominado TOV-R. Nesta versão revisada, foram eliminados itens que não se relacionavam a processos de expectativas, tornando-se um teste mais curto e mais homogêneo, que apresentou propriedades psicométricas adequadas de validade preditiva e consistência interna satisfatória, com alfa=0,78 (Scheier et al., 1994; Vichers & Vogestanz, 2000), fidedignidade temporal teste-resteste adequada (r=0.76) e validade concomitante e discriminante (Hielle et al., 1996; Scheier et al.; 1994; Lai, Cheung, Lee & Yu (1998). Lai et al. (1998) consideraram que a versão revisada desta escala (TOV-R) apresentava propriedades psicométricas mais adequadas do que a primeira versão.

No que se refere à estrutura fatorial do TOV, tem havido uma controvérsia em torno da presença de um fator ou dois fatores, uma vez que diferentes resultados têm sido obtidos nas pesquisas. Alguns autores consideraram o TPV como uma escala unidimensional bipolar, tendo otimismo e pessimismo como dois polos opostos de uma mesma dimensão ou construto, enquanto outros consideraram que havia dois fatores distintos. No estudo original (Scheier & Carver (1985), a análise fatorial exploratória identificou a presença de 2 fatores correlacionados (r= -0.64), mas a análise fatorial confirmatória indicou que os dois modelos possíveis de estrutura fatorial (com 1 ou 2 fatores) eram igualmente adequados, os autores tendo então considerado mais parcimonioso tratar o TOV como um teste unidimensional. O estudo do teste revisado na língua inglesa (LOT-R) resultou em uma estrutura dimensional de um único fator, que explicou 48.1% da variância dos dados (Scheier et al., 1994). Lai et al. (1998) também encontraram uma estrutura unidimensional no TOV revisado, ao fazer uma análise fatorial confirmatória. Hielle et al. (1996) sugeriram igualmente que esta escala poderia ser considerada como unidimensional, pois em seu estudo os itens positivos e os itens negativos obtiveram uma correlação negativa de - 0,53.

Por outro lado, Myers & Steed (1999) consideraram que o TOV, na sua primeira versão, consistia em uma escala de dois fatores, uma vez que estes fatores, em seu estudo, correlacionaram diferentemente com medidas de um outro construto referente ao estilo de enfrentamento ("Repressive coping"). Além disso, estes autores consideraram baixa a correlação de r= -0.50 obtida por eles entre os dois fatores, assim como as correlações obtidas em outras pesquisas, as quais têm alcançado valores na faixa de –0,47 a –0,57, entre os dois fatores, sugerindo que os itens de pessimismo e de otimismo do TOPV seriam construtos diferentes e não extremos opostos de um mesmo construto. Entretanto, estes resultados, que indicaram a presença de uma estrutura com dois fatores, podem ter sido determinados pela forma de redação dos itens do TOV, metade deles redigido em termos negativos e metade em termos positivos. Chang & McBride-Chang (1996) demostraram que, de fato, quando se alterou a formulação das questões de forma a uniformizá-las, os resultados indicaram uma estrutura unidimensional.

Os resultados obtidos nas diversas pesquisas mostraram que a versão revisada do teste (TOV-R) tem produzido resultados diferentes dos obtidos com sua versão original, no que se refere à estrutura dimensional, resultando em análises que reforçam mais a estrutura unidimensional do teste. Torna-se necessário, portanto, mais estudos sobre a estrutura dimensional da versão revisada do TOV-R em diferentes meios e culturas, afim de esclarecer este aspecto.

 

VALIDAÇÃO PARA OUTRAS CULTURAS

O TOV-R foi traduzido, adaptado e validado para a cultura chinesa, tendo sido utilizado em uma amostra de 248 estudantes chineses. Neste caso, a versão revisada apresentou qualidades psicométricas adequadas de validade concomitante e discriminante, assim como de fidedignidade, apresentando além disso, na análise fatorial confirmatória, uma estrutura dimensional claramente unidimensional ( Lai et al., 1998). O TOV-R foi igualmente traduzido, adaptado e validado para a cultura canadense-francesa, tendo apresentado igualmente propriedades psicométricas adequadas de validade e fidedignidade, mas uma estrutura bifatorial (Bekou, Vallerand & Tetreau, 1998; Bekou, Tetreault, Valerand, & Gouzet, 1999). No Brasil, este teste foi validado por nós, Laboratório de Pesquisa em Saúde Mental da Universidade Federal de São João del Rei.

 

ESTUDO DE VALIDAÇÃO PARA O CONTEXTO BRASILEIRO

1. Teste original utilizado na validação: Foi utilizada a versão revisada canadense-francesa do Teste de Orientação da Vida, traduzido e adaptado para a cultura canadente-francesa por Bekou et al. (1998) e validado por Bekou et al. (1999). Esta versão apresentou qualidades psicométricas satisfatórias, em termos de uma boa consistência interna (alpha de Cronbach=0,68), estabilidade temporal teste-reteste (r=0,61) e uma estrutura dimensional de dois fatores explicando 56,58% da variância dos dados. Os coeficientes de saturação variaram de 0,48 a 0,82. O teste TOV-R apresentou igualmente qualidades psicométricas satisfatórias nas suas versões chinesa e de língua inglesa, conforme descrito acima, na introdução.

2. Procedimento de Adaptação Transcultural para o Brasil: A validação transcultural do TOV-R para o contexto brasileiro foi realizada segundo as recomendações de Vallerand (1989). Assim, a versão brasileira inicial foi elaborada a partir de uma tradução reversa ("backtranslation") realizada por duas pessoas bilingües. Em primeiro lugar, uma psicóloga bilingüe de nacionalidade brasileira traduziu o TOV-R do original em francês para o português. Em seguida, uma segunda pessoa bilingüe de nacionalidade francesa, fez a retrotradução, vertendo para o francês. As duas formas em francês, a original e a retrotraduzida, foram então comparadas por um grupo de especialistas, composto pelos dois tradutores e por uma outra psicóloga brasileira. Estas três pessoas discutiram a respeito das inconsistências encontradas e chegaram a um consenso para a correção e redação das questões em português.

Esta versão inicial do consenso foi então aplicada em uma amostra de 20 estudantes universitários para se verificar a compreensão dos termos utilizados. A cada aplicação em pequenos grupos de 4 a 6 sujeitos, seguia-se uma discussão com os sujeitos a respeito de possíveis incompreensões dos itens do teste, em função das formulações das frases. As críticas e sugestões de cada sujeito eram então anotadas e discutidas pelo grupo de especialistas, resultando em modificações do teste. As reformulações foram incorporadas e o teste foi reaplicado a outro pequeno grupo de sujeitos, até que não se encontrou mais problemas de compreensão na sua aplicação, tornando-se portanto mais claro e fácil de ser compreendido pela população-alvo.

3. Estudo de validação : A validação do TOV-R incluiu procedimentos de avaliação da fidedignidade e da validade da escala. Para isto, foi utilizada uma amostra de sujeitos que participou de uma primeira aplicação do teste e uma sub-amostra que participou também de uma replicação do teste.

Primeira amostra: A amostra dos sujeitos que participaram da primeira aplicação do TOV-R foi composta por estudantes universitários da Fundação de Ensino Superior de São João del-Rei (FUNREI), de ambos os sexos, que cursavam os cursos de: Administração, Ciências, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Filosofia, Economia, Pedagogia, Psicologia e Letras, estando matriculados em diversos períodos dos cursos. Participaram dessa primeira aplicação 396 alunos, com idade média de 22,34 anos, sendo 188 do sexo masculino (47,5%) e 207 do sexo feminino (52,3%). Sub-amostra do reteste: Para a realização do reteste, foi composta uma sub-amostra de 48 sujeitos, com idade média de 23,27 anos, selecionados aleatoriamente dentre os estudantes que participaram da primeira amostra. Esta sub-amostra consistia de 24 homens (50%) e 24 mulheres (50%).

Procedimento: Para verificar as propriedades psicométricas da versão brasileira do Teste de Orientação na Vida, os sujeitos da primeira amostra responderam a dois instrumentos de medida, o TOV-R e o Inventário de Depressão de Beck, visando investigar se um maior grau de otimismo ("predictor"), medido pelo TOV-R, seria preditivo de um menor grau de sintomas depressivos desenvolvidos pelos sujeitos ("outcome"), medido através do Inventário do Beck (Scheier et al., 1994).

A aplicação dos testes foi realizada de forma coletiva em salas de aula, por dois assistentes de pesquisa previamente treinados. A aplicação dos testes seguiu um procedimento padronizado, com instruções detalhadas a respeito da pesquisa e do teste. Os aplicadores verificavam se todas as questões eram respondidas.

Após um intervalo de trinta dias, foi realizado o reteste em uma sub-amostra dos sujeitos, que participaram então de uma segunda aplicação do TOV-R, seguindo-se o mesmo procedimento de aplicação. O reteste foi realizado com o objetivo de verificar a fidedignidade ou estabilidade temporal do instrumento.

 

PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS DA VERSÃO BRASILEIRA DO TOV-R

Os resultados obtidos no presente trabalho de validação mostraram que a versão brasileira do Teste de Orientação da Vida (TOV-R) apresentou qualidades psicométricas satisfatórias, em termos de sua fidedignidade e validade.

Estabilidade temporal: A fidedignidade do TOV-R foi verificada através de uma análise correlacional de Pearson entre os escores das duas aplicações teste-reteste, realizadas com um intervalo de 30 dias, na sub-amostra de 48 sujeitos.

Obteve-se uma correlação positiva significativa (r = 0,61 p=0,000) entre os dados do teste e do reteste. Esse resultado demonstra que o Teste de Orientação da Vida é um instrumento de medida que apresenta estabilidade temporal ou fidedignidade para medir o construto de orientação da vida.

Consistência Interna: A consistência interna do TOV-R foi verificada através do cálculo do coeficiente alpha de Cronbach aplicado aos seis itens positivos e negativos do teste. Os resultados indicaram uma consistência interna satisfatória, uma vez que o valor de alpha foi elevado (a =0,68).

As correlações item-total variaram de 0,31 a 0,52, indicando que cada item está medindo parcialmente o mesmo construto subjascente, sem ser redundante com os demais itens. Além disso, os itens contribuíram igualmente para o valor de alfa de Cronbach, pois as diminuições dos valores de alfa foram relativamente comparáveis, à medida que os itens eram individualmente removidos da escala. Estes resultados indicam que os itens do teste TOV-R apresentaram uma boa homogeneidade ou fidedignidade.

Relação entre otimismo e depressão: A relação inversa , teoricamente prevista, entre o grau de otimismo, medido através do TOV, e o grau de depressão, medido pela escala de Beck, foi avaliada através de uma análise correlacional de Pearson entre os escores destes dois testes. Os resultados desta análise mostraram uma correlação negativa significativa entre os escores destes testes (r = - 0,42, p=0,00). O grau de otimismo, medido pelo TOV-R foi, portanto, uma variável preditiva da presença de um menor nível de sintomas depressivos na amostra estudada. Ou seja, quanto maior era o grau de otimismo ou percepção positiva que os sujeitos possuíam a respeito da vida, menor era o número de sintomas depressivos apresentados por eles.

Validade de Construto: Os dados dos itens positivos e negativos do TOV-R foram submetidos a uma análise fatorial exploratória, com rotação Varimax. Os resultados desta análise indicaram a presença de um único fator, composto por seis itens, que avaliam o construto de Orientação na Vida. A porcentagem de variância explicada por este fator foi de 39,78%. O fator identificado apresentou um valor do eingenvelue de 2,38. Os demais fatores mostraram-se irrelevantes, pois os seus respectivos eingenvalues se situavam abaixo de 1,0.

Os coeficientes de saturação dos itens do teste variaram entre 0,49 e 0,73. Foi adotado o critério de 0,30 como valor numérico mínimo para o coeficiente de saturação, abaixo do qual o item seria eliminado. Os resultados da análise fatorial comprovaram a adequação da amostra, uma vez que o valor de KMO foi igual a 0,79. O teste de Bartlett apresentou resultados significativos (Qui-quadrado= 325,44; df=15, p=0,00), indicando a adequação da matrix de correlação.

 

COMPARAÇÃO COM OUTROS ESTUDOS DE VALIDAÇÃO

A consistência interna da versão brasileira (alpha=0,68) atingiu um resultado idêntico (alpha=0,68) ao obtido na versão canadense-francesa (Bekou et al., 1999), embora este valor esteja abaixo do resultado obtido (alpha=0,78) para a versão revisada de língua inglesa (Scheier et al., 1994). O resultado obtido na amostra brasileira se aproxima igualmente dos dados obtidos (alpha=0,70) na amostra chinesa (Lai et al., 1998).

A estabilidade temporal da versão brasileira atingiu uma correlação significativa teste-reteste de 0,61, idêntica ao resultado obtido para a versão canadense-francesa (r=0,61) e dentro da faixa encontrada por Scheier et al. (1994) para quatro amostras de estudantes (0,56 à 0,79), embora este valor tenha sido inferior ao obtido (r=0,76) com a versão revisada de língua inglesa, no estudo de Hielle et al. (1996). O resultado obtido na amostra brasileira se aproxima igualmente dos dados obtidos (r=0,66) na amostra chinesa (Lai et al., 1998).

Além disso, o resultado do estudo brasileiro, referente a uma correlação negativa significativa entre o TOV-R e o teste do Beck (r = -0,42, p=0,00), demonstrando que o grau de otimismo é uma variável preditiva de menor presença de sintomas depressivos, é idêntico aos dados obtidos para a versão revisada de língua inglesa. Na versão inglesa, obteve-se também uma correlação negativa significativa estes dois testes (r= - 0,42; p= 0,001), em um estudo transversal com estudantes universitários (Scheier et al., 1994). Estes resultados foram confirmados em um estudo longitudinal (Vickers & Vogeltanz, 2000), em um período de 10 meses, no qual se constatou que o grau de otimismo foi preditivo dos níveis futuros de sintomas depressivos, em uma amostra de estudantes universitários.

Quanto à estrutura dimensional do TOV-R, os resultados da versão brasileira se assemelham aos dados da versão inglesa e da versão chinesa, contrariando os resultados obtidos para a versão candadense-francesa. No presente estudo, identificou-se a presença apenas de um fator, explicando 39, 78% da variância dos dados, enquanto que na versão canadense-francesa foi encontrada uma estrutura dimensional com dois fatores, explicando 56,58% da variância. Os resultados obtidos aqui para a versão brasileira do TOV-R estão em acordo com os dados encontrados para a versão revisada de língua inglesa, que também apresentaram uma estrutura fatorial de apenas um fator (Scheier et al., 1994). Do mesmo modo, a versão chinesa do TOV-R também apresentou uma estrutura unidimensional, após uma análise fatorial confirmatória ( Lai et al., 1998). Hielle et al. (1996) argumentaram também a favor da estrutura unidimensional do TOV-R, com base na correlação significativa encontrada entre os itens negativos e os itens positivos da escala.

 

DESCRIÇÃO DA VERSÃO BRASILEIRA DO TOV-R:

O teste TOV-R, validado para o Brasil por este Laboratório de Pesquisa em Saúde Mental (LPSAM), pode ser visualizado, nesta página da internet, clicando-se sobre a palavra COPIA DO TESTE, que se situa no extremo direto superior da primeira página desta apresentação.

A versão brasileira do TOV-R contem dez itens (Scheier et al. 1994). Dentre esses itens, encontram-se três afirmativas positivas (itens 1, 4 e 10), três afirmativas negativas (itens 3, 7 e 9) e quatro questões neutras (2, 5, 6 e 8). As questões neutras ("filler questions") não visam analisar o construto de orientação da vida e, portanto, não são incluídos na análise de dados para o cálculo do grau de otimismo.

Ao responder o questionário, o sujeito deve avaliar cada afirmativa em uma escala tipo Likert de 5 pontos, com gradações de 0 à 4, conforme o seu grau de concordância ou discordância em relação à mesma. Nesta escala, os valores possuem a seguinte correspondência: 0=discordo totalmente, 1=discordo, 2 = neutro, 3=concordo e 4=concordo totalmente.

Cálculo do grau de otimismo: Para o cálculo do grau de orientação otimista da vida, os escores dos itens negativos do teste precisam antes ser invertidos, de modo que todos os valores próximos a 4 indiquem sempre um maior grau de expectativa otimista do sujeito em relação à vida. Após a inversão dos escores dos itens negativos, pode-se calcular o índice global de grau de otimismo através da soma dos seis itens do TOV-R.

Para inverter os itens negativos do teste, basta inverter o valor da escala de 0 a 4. Assim, se o sujeito recebeu o escore 0 em um dos itens a serem invertidos, seu escore deverá ser invertido para o extremo oposto da escala, recebendo portanto o valor 4. Caso o sujeito tenha obtido o escore 1, este resultado seria invertido para o valor 3. No caso do sujeito ter obtido o escore 2, ele permanece com este valor, pois trata-se de um valor mediano.

Por outro lado, se o paciente recebeu o escore 4 em um item que precisa ser invertido, deve-se inverter seu resultado para o extremo oposto da escala, ou seja, 0. Caso ele tenha recebido o escore 3, inverte-se seu resultado para o valor 1.

 

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