A escala EACS visa identificar quais são as principais dificuldades dos pacientes psiquiátricos, em termos das habilidades sociais requeridas em uma interação social, nos seus aspectos verbais, não-verbais, paralinguísticos, de expressividade emocional e de solução de problemas.

Esta informação é útil no processo de avaliação psicológica, para se identificar os aspectos a serem mais focalizados em um treinamento de habilidades sociais. Ela serve também para verificar os efeitos deste treinamento no grau de competência social dos pacientes, quando aplicada antes e depois deste treinamento, como uma forma independente e padronizada de avaliação da eficácia da intervenção. A avaliação através desta escala serve ainda para descrever as características deste tipo de clientela, no que diz respeito à competência social, de forma a poder relacionar estes dados com outros aspectos referentes a variáveis sócio-demográficas e clínicas, tanto no que se refere ao diagnóstico quanto ao prognóstico dos distúrbios psiquiátricos.

A escala EACS visa avaliar o grau de competência social dos pacientes psiquiátricos através da observação sistemática de seus comportamentos em situações de desempenho de papéis. São utilizadas quatro situações sociais cotidianas que ocorrem em família e que envolvem conflitos interpessoais entre o sujeito e seu interlocutor. Estas situações ocorrem em cenários montados para representar o mais naturalmente possível o ambiente no qual as situações se desenvolvem.

Inicialmente, os pacientes participam de uma situação que visa apenas familiarizá-los com o procedimento e, em seguida, participam das quatro situações de avaliação propriamente ditas. O desempenho dos sujeitos ao interagir com o interlocutor nestas situações é filmado e seus comportamentos são avaliados posteriormente por dois observadores treinados para este fim. Para avaliar o grau de competência social dos pacientes, os observadores atribuem cotas ou valores de adequação ao desempenho dos pacientes observados em vídeo. Os dados a respeito desta escala podem ser encontrados no artigo de sua publicação (Bandeira, 2002).

ORIGEM E DESENVOLVIMENTO:

A escala EACS consiste em uma adaptação para o contexto brasileiro da EEHS (Escala de Avaliação Ecológica de Habilidades Sociais -Evaluation Ecologique des Habilités Sociales, Tremblay e Bandeira, 1994). Esta adaptação visava a obtenção de uma escala transcultural, que embora adaptada para o nosso contexto, oferecesse uma possibilidade de comparação mais direta com os resultados obtidos em outra cultura. A escala original consiste de nove situações sociais, sendo uma situação de familiarização e oito situações sociais cotidianas, selecionadas através de uma pesquisa de levantamento, realizada junto a 15 profissionais responsáveis por cinco residências comunitárias canadenses para pacientes psiquiátricos, o que torna a escala mais realista para ser aplicada a esta clientela e com maior validade social (Torgrud e Holborn, 1992). Estas oito situações representam as dificuldades de relacionamento social mais freqüentes apresentadas pelos pacientes e referem-se a atividades cotidianas.

Na adaptação da escala original para o contexto brasileiro, foram selecionadas apenas as quatro situações que apresentaram maior capacidade de discriminação entre grupos clínico e não-clínico, a fim de tornar a escala mais curta e mais fácil de ser administrada aos pacientes. Além disso, as situações de interação social foram adaptadas ao contexto brasileiro, de modo a envolver interações cotidianas que ocorrem habitualmente em uma casa de família, pois os pacientes desinstitucionalizados aqui moram mais freqüentemente com suas famílias do que em residências comunitárias. Além disso, foi acrescentada uma sub-escala de solução de problemas, visando uma avaliação mais completa da competência social, uma vez que esta habilidade constitui uma parte integrante do repertório de habilidades sociais. Trata-se de um componente importante que consta dos módulos mais divulgados de treinamento de habilidades sociais para pacientes psiquiátricos (Liberman,R.P., Wallace,C.J., Blackwell,C.A., Eckman,t.A., Vaccaro,J.V. & Kuehnel,T.G. (1993).