O Projeto LEMA
Desde a Rio Eco-92, o mundo vem discutindo, com maior profundidade, as questões do meio ambiente, da natureza e do ecossistema. De lá para cá, inúmeras medidas têm sido adotadas visando ao controle e redução dos níveis de poluição ambiental. Sabe-se que a continuar praticando o modelo cartesiano de desenvolvimento econômico, em que maior riqueza parece decorrer de maior produção industrial e maior consumo, futuras gerações da Terra estariam seriamente ameaçadas. Vários são os recursos naturais, cujas reservas tendem a se esgotar num curto espaço de tempo, sem contar os efeitos nocivos do modelo atual: devastação de florestas, extinção de espécies, eutroficação, chuva ácida, destruição da camada de ozônio e efeito estufa. Há muito tempo, o homem vem explorando a natureza para dela tirar proveito e, pior, para dominá-la. É esta, inclusive, uma referência aos ensinamentos de Bacon:
"Se se busca acima de tudo fazer com que a natureza atenda às necessidades e às comodidades humanas" (BACON, 1979,150). E complementa:
"Enganamo-nos, pensando que a técnica humana não pode introduzir mudanças radicais e abalar [a natureza] até em seus fundamentos; eis uma opinião que muitas vezes levou os homens a desesperarem de seus empreendimentos. E, assim como varia a intenção, varia também o efeito; uma deve permitir a vitória sobre um adversário numa controvérsia, e, a outra, imperar sobre a natureza em ação" (BACON, 1857-1872: 24, 506).
Não há motivo para se desenvolver uma antítese ao paradigma dominante. O homem não deve ser submetido ao jugo da natureza, mas deve interagir-se dialeticamente com ela para, entre outras coisas, maximizar o uso dos recursos naturais e reaproveitar de preferência todas as sobras. Além disto, detritos e gases industriais e lixo residencial tendem a prejudicar a qualidade dos recursos naturais.
O homem obtém diretamente da natureza vários recursos naturais, dentre os quais ar e água. Portanto, sua qualidade de vida é função da qualidade destes recursos, que poderá estar ou vir a ser comprometida pelos desperdícios. Não se pretende explorar, com este sentido, nenhuma conotação política ou demagógica. A proposta do Laboratório de Estratégia e Meio Ambiente é pragmática e, aparentemente, sem dogmas.
Apesar das evidências de que melhor desempenho ambiental leve a melhor desempenho financeiro, como em Cohen et al. (1992), as ações ambientais pró-ativas são, ainda, limitadas. Independentemente da viabilidade econômico-financeira dos projetos, muitos são os casos de empresas obrigadas, por medidas governamentais cada vez mais restritivas, a ajustar-se aos padrões de desempenho ambiental.
Concomitantemente, tem crescido a atuação de agências governamentais e de ONGs no combate aos agentes poluidores. A mídia, por sua vez, tem ocupado importante papel na divulgação de casos de agressão ambiental. Todas estas ações vêem dificuldades nas operações de empresas poluidoras. Há evidências, em Klassen e McLaughlin (1996), da existência de significativa relação entre desempenho ambiental e valor de mercado da empresa. Uma das explicações para isto está no crescimento das expectativas dos investidores acerca do valor futuro da empresa, decorrente de divulgação de ganhos de mercado e economias de custo obtidas com programas ambientais.
Novos produtos ecologicamente corretos estão sendo desenvolvidos. Processos estão sendo redesenhados. Estão sendo estudados e implementados novos modelos de gestão, coerentes com o desenvolvimento sustentável, isto é, o desenvolvimento que "atende as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de gerações futuras virem a satisfazer suas próprias necessidades" (Epstein, 1996: 7). Estes seriam, por si mesmos, argumentos suficientes para se criar um espaço para o desenvolvimento cognoscente.
Além de gestão ambiental, outro tema extremamente profícuo, apaixonante e sem qualquer consenso é o da estratégia. A globalização econômica, a tecnologia de informação e os processos de fusões e aquisições têm criado um cenário estratégico inteiramente novo para as empresas, independentemente de seu tamanho.
O nosso LEMA não pretende limitar-se a debater somente as estratégias ambientais. Aliás, a palavra meio ambiente parece, na literatura sobre estratégia, um Termo ambíguo. Em estratégia ambiental, meio ambiente pode ser um dos fatores críticos de sucesso, a exemplo de custos, qualidade, tempo, flexibilidade e inovação; é o objeto da ação estratégica de empresas, cuja missão compreenda a sua responsabilidade social (inclusive o ecologicamente correto).
Por outro lado, meio ambiente pode ser o macrossistema (próximo e remoto), onde está inserida a empresa e onde ela sofre as ações, e o próprio meio ambiente da empresa, constituído por seus subsistemas social, de informação, físico, dentre outros. É sob este espectro que faz sentido uma abordagem mais generalista do conhecimento compartilhado por finanças, marketing, produção, logística, recursos humanos e contabilidade financeira e gerencial, entre outros. É este intrincado conjunto de idéias, que motivam o LEMA a buscar contribuições multidisciplinares, desde que tenham por foco a estratégia corporativa e funcional e o meio ambiente como objeto da ação.
NOSSOS OBJETIVOS