Quando se saboreia uma nova qualidade de fruta ou quando se vê na televisão que os cientistas produziram em laboratório um tecido que salvará a vida de um paciente terminal, pouco se ouve falar em Bioengenharia. Esse ramo da ciência, que se desenvolveu a partir dos anos 50, é uma área de fronteira entre a Biologia e a Engenharia, na qual se estabelecem diversos domínios de interação de conhecimentos. É crescente a demanda de profissionais para a produção e o desenvolvimento científico e tecnológico nesta área, que saibam pensar, desenvolver e manipular processos biológicos visando à melhoria da qualidade de vida na Terra. Há dois anos, universidades americanas e canadenses começaram a oferecer programas de graduação em Bioengenharia.
Como conseqüência dessa tendência mundial e no bojo da implantação, pela UFSJ, do campus Sete Lagoas – voltado para o desenvolvimento de ensino, pesquisa e extensão e pós-graduação nas áreas de ciências agrárias – o Departamento de Engenharia Biomédica (Depeb) está propondo a implantação do Programa Institucional de Bioengenharia.
O Programa está sendo discutido no Conselho Universitário (Consu), e seus detalhes foram apresentados nesse fórum no último dia 18, pelo chefe do Depeb, professor Antônio-Carlos Guimarães de Almeida.
A iniciativa conta com o apoio de instituições de peso, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Fapemig, Coppe/UFRJ, Universidade Federal de São Paulo, Capes e CNPq.

 

Interação

 

O Programa é, por natureza, inovador e interdisciplinar. Abrangerá e fará interagir pesquisadores em níveis de graduação e pós-graduação, que serão oferecidos a partir de 2009. Os cursos de graduação que integrarão o Programa Institucional de Bioengenharia são o Bacharelado Interdisciplinar em Biossistemas, Engenharia Agronômica, Engenharia de Alimentos e Zootecnia. Os três últimos se incluem na categoria profissionalizantes, e serão implantados segundo determinações do Conselho Nacional de Educação para a formação de profissionais em tais áreas.
"Após o vestibular, o estudante cursará inicialmente três anos do Bacharelado Interdisciplinar em Bios-sistemas. Nos dois primeiros anos do bacharelado, o aluno cursa o núcleo comum, idêntico para os três cursos. Eles estudarão muita Química, Física, Matemática e Biologia, aprendendo a pensar essas ciências de forma integrada. No terceiro ano, passam a estudar um conjunto de disciplinas com ênfase direcionada à carreira profissional a ser seguida: Processamento de Alimentos, Produção Vegetal e Produção Animal. Depois do bacharelado, o estudante cursa mais dois anos, para integralização de seu curso em Engenharia Agronômica, Engenharia de Alimentos e Zootecnia", explica o professor Antônio-Carlos.
Segundo ele, todo o conteúdo proposto no Programa enfatiza questões ecológicas, sociais e humanísticas. "Um exemplo é que, para a conclusão do bacharelado, as monografias deverão obrigatoriamente trabalhar questões regionais", completa. Os primeiros 150 estudantes do bacharelado serão distribuídos em duas turmas, uma em São João del-Rei e outra em Sete Lagoas. Os professores se dividirão em duas equipes, que trabalharão em revezamento, garantindo a igualdade dos conteúdos oferecidos nos dois campi.
Quanto à pós-graduação, o Programa Interdisciplinar em Biossistemas pretende articular, de forma matricial, as linhas de pesquisa com os domínios de técnica de investigação. As linhas de pesquisa propostas serão engenharias, nas áreas de Sistemas Neuronais, Biotecidos, Sistemas Agrícolas, Sistemas Genéticos, Sistemas Ecológicos. E as técnicas de investigação: Microscopia, Modelagem Computacional, Bioinformática, Bioquímica, Biologia Molecular e Biofísica. Segundo Antônio-Carlos, para que essa estrutura funcione, os docentes devem ter reconhecida produção científica. "É necessária uma forte atuação dentro de uma linha de pesquisa e no método", explica. Atualmente, pesquisadores da UFSJ e da Embrapa trabalham nos projetos de cursos de pós-graduação do Programa, que deverá ser apresentado à Capes em março do próximo ano.
Uma inovação do Programa é que, dependendo do processo seletivo e de análise prévia da trajetória acadêmica, o estudante, recém-saído do bacharelado ou da graduação, poderá ir diretamente para o mestrado ou para o doutorado. O projeto de implantação detalha todas as fases de desenvolvimento do Programa, como a contratação de docentes, a construção de prédios e laboratórios em São João del-Rei e Sete Lagoas, e os projetos pedagógicos dos cursos.
"É preciso formar um engenheiro criativo, que pense e dê respostas para os problemas da Bioengenharia. O engenheiro que formaremos é diferente e necessário", garante Antônio-Carlos.

Última atualização: 29/08/2008