<i>Ela quer tudo</i>: como falar de amor e sexo em um mundo de possibilidades

Publicada em 16/03/2021

Clara Fernandes

“O que querem as mulheres?” Tão clichê quanto essa pergunta é a minha escolha de iniciar a resenha de um série chamada Ela quer tudo com a famigerada questão.

Para respondê-la, diversos outros clichês foram criados na indústria do cinema e da televisão. Uma leva de filmes e séries narrando a jornada de mulheres incompletas e insatisfeitas que, por um acaso do destino, encontram a plenitude em, adivinhe só!, um relacionamento romântico.

A série supera todos os lugares comuns. A protagonista é uma mulher negra, não monogâmica, assumidamente pansexual e brutalmente honesta com seus sentimentos. Estrelada por DeWanda Wise, se baseia no filme de mesmo nome, lançado em 1986, marcando a estreia de Spike Lee na indústria.

A primeira temporada acompanha a rotina e os dilemas da artista plástica Nola Darling, enquanto ela divide seu tempo entre seus amigos, seu trabalho e seus três amantes: o executivo Jamie Overstreet (Lyriq Bent), o mais sério e tradicional do trio; o divertido Mars Blackmon (Anthony Ramos), entregador, músico e grande conhecedor das ruas do Brooklyn; e o modelo Greer Childs (Cleo Anthony): lindo, sedutor e narcisista.

Ao longo dos episódios, uma importante personagem se junta a essa dinâmica: a florista Opal Gilstrap (Ilfenesh Hadera). Mas o relacionamento mais visceral de Nola é, sem dúvida, o que ela tem com a arte. Seus quadros aparecem em diversas cenas e a trama mostra o desenvolvimento e amadurecimento da protagonista através de sua busca por se encontrar como artista.

Olhando diretamente para a câmera, Nola convida quem está assistindo a acompanhar sua jornada nada linear. Entre experiências sexuais, decepções amorosas, dificuldades financeiras, conquistas profissionais e dilemas éticos, ela também entra em contato com questões sociais importantes, como assédio, gentrificação e a situação das comunidades negra e latina no Brooklyn, cenário principal da trama.

A produção infelizmente foi cancelada pela Netflix, mas seu produtor já garantiu que vai levá-la para outras emissoras. E que o faça, porque o mundo precisa de narrativas como essa. Ela quer tudo não deixa de ser uma série sobre relacionamentos: consigo mesma, com a comunidade, com a arte e com os afetos. É um retrato que faz juz da maneira mais bela possível à realidade das mulheres de hoje, que não se resumem a um enredo ou trama somente. Elas querem tudo. E terão.

 

Clara Fernandes é formada em Jornalismo pela UFSJ. Trabalha com mídias digitais, conteúdo e gestão de projetos. Mas gosta mesmo é de falar: sobre feminismo, cotidiano, saúde, cultura pop e o que mais der na telha.