<i>Last Of Us I</i> e <i>II</i> e as primeiras de nós - videogames e representações femininas

Publicada em 09/03/2021

Marina Alvarenga Botelho

Last Of Us I (Naughty Dog, 2013/2014) é um jogo em terceira pessoa, que se passa em um cenário pós-apocalíptico, com zumbis infectados por fungos. Os sobreviventes vivem em zonas de quarentena reprimidos por forças armadas. Joel é um contrabandista que tem a missão, dada por um grupo de resistência, de levar a jovem Ellie para fora da cidade. Alerta de spoiler: ela é imune ao vírus e será utilizada para a produção de vacinas.

Já em Last Of Us II (2020), o jogador ora ocupa o posicionamento de Ellie, que assume um romance lésbico com Dina, ora deve jogar como Abby. Ambas estão em busca de vingança e passam por situações extremas durante suas trajetórias. Elas devem lutar não só contra os zumbis, cada vez mais fortes, como também contra diferentes comunidades rivais. É até difícil descrever o jogo e sua narrativa intensa. Ocupar o lugar dessas duas mulheres incrivelmente fortes e resilientes nos toca de uma forma profunda. Sentimos suas dores, tomamos suas raivas e choramos junto nos momentos trágicos.

Na época de seu lançamento, foram diversas as críticas ao jogo, principalmente vindo de gamers homens e conservadores. Disfarçadas de desaprovação quanto à jogabilidade, o incômodo real foi com o protagonismo feminino, lésbico, e cuja representação visual escapa à da mulher “gostosa” e que precisa de proteção. A imagem de Abby, por exemplo, uma mulher musculosa, foi criticada por ser “inverossímil” para o corpo de uma mulher, mas a verdade é que o corpo real e não-objetificado incomoda.

Outros personagens que fazem parte da trajetória de Abby e Ellie também trazem representatividade, como o homem trans Lev. Em quais jogos mainstream da indústria de games vemos personagens como essas? Podemos contar nos dedos. Nesse sentido, Last Of Us II abre portas para novas possibilidades e narrativas em jogos, trazendo à tona reivindicações de igualdade e equidade na representação das mulheres. É necessário que a sociedade possa se colocar, mais frequentemente, na posição desses sujeitos.

 

Marina Alvarenga Botelho, professora substituta do Departamento de Comunicação Social da UFSJ, é jornalista, feminista, gamer e pesquisadora.