Impactos da pandemia na rotina dos adolescentes brasileiros é tema de pesquisa

Publicada em 14/12/2020

Durante a pandemia, 48,7% dos adolescentes do país têm sentido, na maioria das vezes ou sempre, preocupação, nervosismo ou mau humor. Houve aumento no consumo de doces e congelados, bem como no sedentarismo: o percentual de jovens que não faziam 60 minutos de atividade física em nenhum dia da semana antes da pandemia era de 20,9%, e passou a ser de 43,4%. Setenta por cento dos brasileiros de 16 a 17 anos passaram a ficar mais de 4 horas por dia em frente ao computador, tablet ou celular, além do tempo das aulas on-line. Além disso, 23,9% daqueles entre 12 e 17 anos começaram a ter problemas no sono, e 59% sentiram dificuldades para se concentrar nas aulas de ensino a distância. Esses são alguns dos resultados da ConVid Adolescentes - Pesquisa de Comportamentos, realizada com jovens de todo o Brasil, de junho a setembro de 2020.

O trabalho investigou as mudanças na rotina, no estilo de vida, nas relações com familiares e amigos, nas atividades escolares, nos cuidados com a saúde e no estado de ânimo dos adolescentes, na faixa etária dos 12 aos 17 anos. Foi coordenado pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde, da Fiocruz, em parceria com a UFMG e a Unicamp, e realizado de forma on-line: 9.470 adolescentes responderam a um questionário virtual, entre os dias 27 de junho e 17 de setembro. Trata-se da segunda etapa da ConVid, que em abril e maio abordou os estilos de vida dos adultos durante a pandemia.

“A falta de atividade física entre os adolescentes foi um dos resultados que mais se destacou. Em geral, os jovens brasileiros praticam mais atividades coletivas, como aulas de danças e jogos com bola. Com as medidas de restrição social, tornou-se mais difícil para eles manterem a prática de exercícios”, aponta a pesquisadora da Fiocruz, Celia Landmann Szwarcwald, coordenadora da pesquisa. “Chama atenção também o estado de ânimo desses jovens, que relataram tristeza, ansiedade e a ausência de amigos.”

Mudança de hábitos
A pesquisa também abordou aspectos mais diretamente ligados à pandemia, como medidas de prevenção e diagnóstico. O percentual de adolescentes que se declarou como tendo sido diagnosticado com Covid-19 foi de 3,9%, com a menor proporção na região Sul (2,1%), e a maior (6,1%), na região Norte.

A grande maioria dos adolescentes (71,5%) aderiu às medidas de restrição social, com 25,9% em restrição total e 45,6% em restrição intensa, ou seja, saindo só para supermercados, farmácias ou casa de familiares. Foram apontadas mudanças de práticas, como lavar as mãos (76%), uso de máscaras (89%), não compartilhar objetos (49%), mostrando que entenderam bem as mensagens de prevenção e estão se cuidando.

Piora na saúde física e mental
A piora da saúde na pandemia é outro ponto de destaque: foi apontada por 30% dos jovens. Diferenças foram encontradas por sexo e faixa de idade, com as meninas relatando maior proporção de piora do estado de saúde (33,8%) do que os meninos (25,8%), e os adolescentes mais velhos (37%) do que os mais novos (26,4%).

O percentual de adolescentes que relataram piora na qualidade do sono durante a pandemia foi de 36%, sendo que 23,9% começaram a ter problemas com o sono e 12,1% relataram eles pioraram. Em decorrência, sentir-se preocupado, nervoso ou mal-humorado foi descrito por 48,7% dos adolescentes, sensação mais frequente entre a faixa etária 16-17 anos. O que pode ser explicado pela redução do contato social, em função do distanciamento social.

Mais sedentarismo
O consumo de alimentos não saudáveis em dois ou mais dias da semana aumentou: 4% para pratos congelados e 4% para os chocolates e doces. Mais de 40% dos adolescentes não praticaram atividade física por 60 minutos em nenhum dia da semana durante a pandemia. O percentual de jovens que não faziam 60 minutos de atividade física em nenhum dia da semana antes da pandemia era de 20,9%, e passou a ser de 43,4%.

No período, mais de 60% dos adolescentes relataram ficar por mais de quatro horas em frente às telas de computador, tablet ou celular como lazer, além do tempo para as aulas remotas. Entre os adolescentes de 16-17 anos, o percentual alcança 70%. “As telas se tornaram um meio de eles se conectarem com os amigos via redes sociais ou jogando, mas esse excesso de tempo em frente às telas é preocupante”, aponta a coordenadora Celia.

Muita dificuldade em acompanhar as aulas virtuais foi destaque na análise: 59% relataram falta de concentração, 38,3% falta de interação com os professores, 31,3% falta de interação com amigos. Em relação ao entendimento do conteúdo das aulas on-line, 47,8% dos adolescentes relataram estar entendendo pouco, e 15,8% disseram não estar entendendo nada e apenas um em cada quatro adolescentes de 16-17 anos declararam estar entendendo tudo ou quase tudo.

A pesquisa traz, na conclusão dos especialistas nela envolvidos, resultados muito importantes para orientar as ações de gestores, profissionais da Saúde, da Educação e familiares. A pandemia trouxe muitos desafios para a saúde do adolescente, o que não pode ser negligenciado.

 

Com informações das assessorias de Comunicação da Fiocruz e da Escola de Enfermagem da UFMG