A Universidade como espaço de inclusão

Publicada em 30/10/2020 - Fonte: ASCOM

Ao formar-se em Pedagogia, sequer passava pela cabeça de Andréa Martins trabalhar com educação inclusiva. O acaso ocorreu em 2002, ao prestar concurso para a área, o que mudou completamente sua vida. Começou a investir nessa formação e hoje se dedica à causa dos surdos para além dos espaços da UFSJ. “Sinto-me confiante na escolha que fiz, e orgulhosa em ser parte integrante da comunidade surda”, afirma.

Tradutora e intérprete de Libras na UFSJ, após aprovação em concurso no ano de 2016, Andréa compõe uma equipe que tem o trabalho fundamental de garantir a inclusão dos surdos no Ensino Superior. E essa ação é a mais diversa possível: vai da atuação em sala de aula à participação em vídeos e lives. Apesar da alta demanda, ainda mais em tempos de pandemia, o trabalho, para ela, também tem a missão de garantir que a Universidade seja acessível a todas e todos.

Qual sua formação, Andréa? Como começou a trabalhar com Libras?
Sou formada em Pedagogia, especialista em Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental e Libras (Língua Brasileira de Sinais). Comecei meu contato efetivamente com os surdos em 2002, a partir do momento em que fui aprovada num concurso na cidade de Lages (SC), onde eu residia, para trabalhar na Educação Especial. A partir daí, fui fazendo todos os cursos de formação na área de Libras e Educação de Surdos que o Estado me oferecia. Fui aprovada no exame de proficiência do MEC, o ProLibras, para atuar no Ensino Superior, bem na época da aprovação da Lei de Libras (Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002), um período intenso e maravilhoso!

Como a entrada na carreira mudou sua vida?
No momento em que pisei naquela escola de surdos, sabia que minha vida mudaria. Senti uma atração sem explicação por aqueles alunos! Eu sabia que o desafio seria grande, mas eu estava muito feliz em poder enfrentá-lo. Naquele momento, eu tinha alunos surdos com uma língua específica, uma língua que eu ainda não tinha pensado em aprender, e que seria o meio de comunicação com meus alunos. No período da minha formação pedagógica, a disciplina de Libras ainda não existia como obrigatória nos cursos de formação de professores. Hoje, me sinto confiante na escolha que fiz, e orgulhosa em ser parte integrante da comunidade surda.

Como ocorreu sua mudança para São João del-Rei?
Mudei-me para São João del-Rei em dezembro de 2005. Iniciei o ano de 2006 trabalhando na Apae, com alunos surdos. E, em 2007, fomos transferidos para a escola regular do Estado, onde trabalhei como intérprete de Libras até 2016, quando prestei concurso para a UFSJ.

Quais são suas principais funções na UFSJ?
Trabalhamos com uma equipe de sete intérpretes, lotados no Setor de Inclusão e Acessibilidade, ligado à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Sinac/Proae). Atendemos aos alunos de Artes Aplicadas, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Engenharia de Telecomunicações e Letras, e também a três professoras surdas. Nosso trabalho garante acessibilidade à comunidade surda inserida na UFSJ, trazendo visibilidade para a cultura surda, dentro e fora da Universidade.

Quais os impactos da pandemia e do trabalho remoto na sua rotina?
Foi uma mudança considerável: trabalhar em casa, adaptar um local para os trabalhos diários, estabelecer rotinas... Com o trabalho remoto, nossa demanda aumentou significativamente pois, além das aulas on-line, ocorrem reuniões em várias áreas - uma das professoras surdas é chefe de Departamento. Há congressos, seminários e muitas lives. Estamos nos esforçando ao máximo para não deixar ninguém sem acessibilidade!

Quais outros trabalhos realiza?
Faço parte, com muito orgulho, da Associação de Surdos de São João del-Rei (ASSJ), desde sua fundação. No momento, nossos encontros estão sendo remotos, e é muito gratificante fazer parte dessa comunidade.

O que a UFSJ representa na sua vida?
Representa uma alegria poder trabalhar num lugar onde as pessoas se respeitam e se esforçam para oferecer acessibilidade ao próximo. Bem sabemos que ainda faltam alguns “degraus” para atingirmos a acessibilidade plena mas, no que depender do nosso Setor, estamos abertos ao diálogo, nos empenhando ao máximo para atender a todos. Sou muito grata por trabalhar na UFSJ, com essa equipe tão unida!