"Temos que conceber o ensino remoto como um período passageiro"

Publicada em 20/10/2020 - Fonte: ASCOM

Nos últimos tempos, as sociedades do mundo todo vêm incorporando progressivamente as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) em suas vidas cotidianas, inclusive nas áreas de ensino. Esse fenômeno, que diverge do sentido de ensino remoto, tem promovido consequências positivas e negativas. Especificamente sobre o ensino remoto, é preciso esclarecer que há diferenças importantes entre esse modelo emergencial de ensino e o uso de TIC’s no ensino ou ainda Educação a Distância (EaD). É o que explica a coordenadora pedagógica do Nead da UFSJ, professora Tatiana Pinheiro de Assis Pontes (Deced).

Segundo ela, o ensino remoto, de forma resumida, visa a preservar características primordiais do ensino presencial como, por exemplo, a interação direta e frequente entre professores e estudantes, sendo que, para isso, os docentes produzem materiais e aulas de forma pontual e conforme a realidade do momento. O uso das TIC’s é primordial nesse processo, assim como na modalidade EaD que, por sua vez, tem um formato pré-definido e padronizado. Nesse cenário, Tatiana percebe o ensino remoto como “necessário para o momento, mas jamais como um substituto ao ensino presencial.”

Doutora em Educação pela Unesp, Tatiana defende que a qualidade no ensino remoto é determinada pelos efeitos que produz na vida dos estudantes, pela função social exercida pelo ensino, quando a formação se configura emancipadora. No caso do ensino remoto, a qualidade pode ser avaliada pelos resultados promovidos na vida acadêmica dos estudantes. “É difícil dizer com toda certeza o que determina o sucesso ou o fracasso desse modelo de ensino, visto que são diversas variáveis a serem consideradas. No entanto, alguns recursos e princípios são indispensáveis para que possamos almejar minimamente bons resultados”, afirma.

Para exemplificar, Tatiana traz como exemplos: o acesso às tecnologias digitais, os conhecimentos e autonomia referentes ao uso das TIC’s, tanto por parte dos professores como pelos docentes; a familiarização e disposição para lidar com esse ambiente de ensino; a manutenção de espaços para diálogo, reflexões e discussões críticas (métodos basilares da Educação); disponibilização de materiais pedagógicos condizentes com as propostas dos planos de ensino curriculares e, finalmente, bibliotecas digitais equivalentes às bibliotecas físicas.

Formato de ensino
Inspirada nas ideias do educador Paulo Freire, Tatiana prevê que o papel do professor continua e sempre continuará sendo o mesmo em qualquer formato de ensino: o de viabilizador de espaços de aprendizagem por meio de relações dialógicas entre estudantes e os objetos de conhecimento. “O professor, uma figura altamente política, tem o desafio de proporcionar ações que oportunizem o desenvolvimento da consciência crítica de cada estudante, independente de ser um ensino remoto ou presencial”, defende. No caso do ensino remoto, ela acredita que um dos grandes desafios é o de manter viva a consciência sobre a essência das finalidades da Educação: a formação plena, o exercício da cidadania, a qualificação para o trabalho e, no ensino superior, além do citado, o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da criação e difusão da cultura.

Nesse cenário, a educadora entende que o ensino remoto está exigindo dos alunos senso de autonomia e de gestão para a organização do tempo, do espaço e de busca por informações que no ensino presencial, muitas vezes, eram ou não administrados pelos professores ou por monitores de disciplinas.

UFSJ
A professora Tatiana destaca que, no processo de estabelecimento do ensino remoto na UFSJ, a instituição se empenhou em ouvir os estudantes, docentes e funcionários. A regulamentação do ensino remoto na instituição, pela Portaria 007/2020, que conferiu autonomia aos departamentos para se organizarem de acordo com suas realidades no processo de retomada do semestre interrompido, também merece destaque. “O que posso observar é que a UFSJ tem se posicionado de forma aberta e acolhedora diante de sua comunidade. Quanto à eficácia do ensino nesse formato remoto, penso que devemos fazer uma avaliação profunda e crítica ao fim desse período para que tenhamos mais clareza quanto aos efeitos provenientes desse momento. Mas posso dizer, com certeza, que o ensino remoto não representa o lugar fundamental ocupado pelo ensino presencial, por isso, não podemos pensar na substituição total do espaço físico da Universidade pelo espaço virtual. Temos que conceber o ensino remoto como um período passageiro”, adverte.

Nesse momento atípico, Tatiana deseja que professores e estudantes continuem acreditando “na força que tem a nossa voz e a nossa posição de acadêmicos de uma instituição pública.” Assim, mesmo que remotamente, “fortaleçamos a nossa comunicação, o contato e o uso dos ambientes virtuais ou outros, para estudarmos juntos, debatermos e traçarmos metas e ações em prol da valorização da universidade pública no Brasil”, recomenda.

Dia dos Professores
Outro desejo é que a esperança de uma sociedade mais justa seja um objetivo vivo e coletivo e não uma espera desanimada, como ensina Paulo Freire. “Que nunca percamos a consciência que a nossa postura é altamente política e formadora em qualquer que seja o formato ou modalidade de ensino, e que por isso mesmo há tantos ataques por parte de opositores à justiça social, muitas vezes simbólicos, contra essa força que emana de nosso papel social. Se conseguirmos contribuir para a conscientização de um aluno, podemos dizer se cumprimos o nosso papel com maestria”, destaca.

 

Publicaremos, ao longo desta semana, uma série de perfis que homenageia os professores da UFSJ.
Como não é possível entrevistar a todos, contamos com a ajuda do Setor de Registro na definição de nossas fontes,
segundo critérios que buscaram contemplar a diversidade que caracteriza nossa comunidade docente.