O verde no contexto urbano

Publicada em 27/08/2020

Entrevista com o professor Luiz Miguel Martins, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal

Dentro da programação do I Ciclo Virtual de Palestras do curso de Engenharia Florestal, do Campus Sete Lagoas, vem acontecendo uma série de apresentações de pesquisadores de renome na área. Um dos convidados especiais é o professor português Luiz Miguel Ferreira Pontes Martins. Engenheiro florestal com doutoramento em Ciências Florestais/Patologia Florestal, é professor auxiliar do Departamento de Ciências Florestais e Arquitetura Paisagista da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Diretor do mestrado em Engenharia Florestal na mesma Universidade, entre outras atividades de um extenso currículo científico, ele falará nesta quinta-feira, a partir das 18h, sobre o tema A floresta urbana e sua contribuição para a sustentabilidade. Na entrevista a seguir, o pesquisador explica a importância da floresta urbana, o esgotamento dos recursos florestais e a importância de eventos como o Ciclo Virtual de Palestras Floresta em Rede.

Em seus trabalhos, o senhor tem focalizado a floresta urbana. O que é, em linhas gerais, esse conceito?
Professor Luiz Miguel: O conjunto de infraestruturas verdes no espaço urbano, do qual fazem parte a vegetação arbórea e arbustiva. Essa estrutura verde é fundamental para a qualidade de vida de cidadão.

O que a floresta urbana pode ensinar às cidades contemporâneas e às do futuro?
Professor Luiz Miguel: A estrutura verde no contexto urbano deve ser tido com um dos elementos essenciais à qualidade de vida do cidadão. Tal como a organização do sistema de saúde, educação, cultura ou segurança, a área verde numa cidade deve ser planejada, considerando que tem uma importância no mínimo idêntica às outras organizações do espaço. Só assim a qualidade de vida do cidadão fica a ganhar por passar a estar mais enquadrada com um ambiente mais próximo do natural, onde o Homem encontra a sua própria essência.

Como o senhor vê a gestão atual dos recursos florestais no mundo?
Professor Luiz Miguel: O esgotamento dos recursos florestais é também consequência da mudança dos paradigmas da economia e do êxodo rural. É importante que sejam promovidas a economia circular e alternativas à exploração intensiva de madeira, pecuária ou agricultura de monocultura. As atividades devem ser sustentáveis, e que contribuam para a melhoria da qualidade de vida do Homem e evitem que este tenha necessidade de emigrar para os aglomerados urbanos. O turismo de natureza, a apicultura, a comercialização de frutos silvestres, plantas aromáticas e medicinais, são alguns exemplos. O pagamento pela preservação do solo, da água, pelo sequestro de carbono é um tributo que deve ser encarado também numa perspetiva de sustentabilidade económica e do aumento do emprego em territórios de baixa densidade populacional.

O senhor, já há algum tempo, desenvolve projetos de pesquisa com grandes espécies arbóreas. Como o aquecimento global tem interferido na vida dessas espécies?
Professor Luiz Miguel: Mais que o aquecimento global, o declínio de muitas manchas arborizadas nas cidades, deve-se a infraestruturas verdes mal planejadas e à deficiente manutenção destes espaços.

O I Ciclo Virtual de Engenharia Florestal da UFSJ - Floresta em Rede, foi todo organizado por estudantes. Como avalia eventos como esse?
Professor Luiz Miguel: São sempre iniciativas muito válidas. Os estudantes devem ainda ser incentivados para que estes debates possam extravasar as fronteiras da Universidade, abarcando outros setores da sociedade. Só com um debate alargado é possível estruturar soluções técnicas inovadores e conciliadoras com vários interesses.