Tese da UFSJ é eleita a melhor de 2019 em Programa Multicêntrico

Publicada em 02/06/2020

Trabalho aborda a produção de proteínas para testes de diagnóstico de esquistossomose<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />

Tese desenvolvida na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) foi eleita a melhor em 2019 entre todas as produzidas no Programa de Pós-Graduação Multicêntrico em Bioquímica e Biologia Molecular, que engloba 20 instituições federais de ensino superior. O trabalho representará o Programa nos prêmios de teses Capes e Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq).
 
Produzida pela agora doutora Laís Nogueira, a pesquisa buscou o desenvolvimento de proteína e peptídeo que pudessem ser usados em testes mais eficazes para identificação da Esquistossomose mansoni. Ela explica que, em Minas Gerais, a maioria dos municípios apresentam transmissão ativa da doença. “Somado a isso, os métodos de diagnóstico disponíveis atualmente podem apresentar limitações, como baixa sensibilidade e especificidade”, informa.
 
Assim, o primeiro passo envolveu a produção de proteína recombinante por meio de bactérias (Escherichia coli), usadas como biofábricas. Neste caso, são utilizados epitopos provenientes de proteínas hipotéticas do parasita (Schistosoma). Essa proteína foi depois “isolada” da bactéria e testada nos soros de pacientes com esquistossomose. O resultado apresentado, segundo Laís, foi bastante promissor, revelando “que a proteína é capaz de diferenciar (a pessoa com a doença), num método que apresentou elevada sensibilidade e especificidade.
 
Em seguida, houve a síntese química (sem agentes biológicos, como as bactérias) de peptídeo proveniente de proteínas do parasita. A resposta também foi positiva, sendo capaz de identificar os pacientes com a doença. “Os resultados mostraram que a proteína e o peptídeo apresentam potencial para constituir um kit de diagnóstico para a Esquistossomose mansoni”, ressalta. Para o orientador da pesquisa, professor Alexsandro Galdino, o estudo é inovador pelo fato de esse tipo de tecnologia ainda não ser usada no diagnóstico da esquistossomose. “Com isso, temos a possibilidade de inovar junto a empresas brasileiras que produzem kits diagnósticos”, adianta. 
 
Inclusive, esses fatores levaram a Comissão de Avaliação a considerar o estudo como de “altíssima qualidade, original, completo e de relevância no contexto social, científico e de inovação.” O trabalho de Laís originou o depósito de 13 patentes, além da publicação de quatro artigos e um capítulo de livro, além de resumo e apresentações em congresso.
 
 
Bate-papo com Laís Nogueira
 
Qual foi o sentimento de saber da escolha da sua tese como a melhor do programa multicêntrico?
O sentimento foi de gratidão, ao ver o reconhecimento de um trabalho árduo de quatro anos. Gratidão por ver que tudo que fazemos com amor, dedicação e empenho dá frutos. A escolha da minha tese como a melhor do programa multicêntrico me fez perceber o quanto eu cresci e amadureci profissionalmente, e o quanto pude aprender com meus erros e chegar até aqui. Além disso, pude constatar o quanto a colaboração e o trabalho em grupo são essenciais para o nosso sucesso. Se não fosse a contribuição substancial do grupo de pesquisa do professor Olindo Assis Martins Filho e da professora Andréa Teixeira de Carvalho, do Instituto René Rachou - Fiocruz Minas, do meu trabalho e de toda a equipe do Labiom, principalmente do meu orientador, professor Alexsandro Galdino, nada disso teria acontecido. 
 
Em um momento de corte de recursos e desestímulo à Ciência, como ações semelhantes contribuem para o trabalho dos pesquisadores?
Contribuem de forma a nos motivar ainda mais a fazer o que amamos. Também nos mostra que estamos no caminho certo e que, embora nos falte incentivo por parte do Governo, nós temos o principal: a vontade de trabalhar e a capacidade de fazer pesquisa de qualidade. Nós temos que continuar lutando pela pesquisa brasileira. Não é preciso ir para fora do Brasil para fazer pesquisa de qualidade, aqui nós temos pesquisadores de excelência que buscam contribuir para a melhoria de vida das pessoas. Podemos ver isso nessa pandemia: as universidades e os institutos de pesquisa brasileiros têm dado contribuições significativas no enfrentamento à Covid-19.