Especial Dia do Professor: A mulher astrofísica<br />

Publicada em 16/10/2019 - Fonte: ASCOM

Na primeira reportagem especial sobre o Dia dos Professores, fomos ao Departamento de Estatística, Física e Matemática (Defim) conversar com uma professora sobre a rotina da profissão e os desafios para se tornar docente em uma universidade pública. Kelly Beatriz Vieira Torres Dozinel, natural de Ouro Branco, sentiu desde cedo as dificuldades e desafios de ser uma mulher na área de Exatas e, mais especificamente, de ser uma mulher que estuda Astrofísica.

Nascida numa família simples, Kelly recebeu apoio total dos pais para estudar, mesmo causando surpresa pela área escolhida. Em 1995, a então estudante optou por cursar licenciatura curta em Ciências e licenciatura plena em Física na UFSJ. “Para eles, era um tanto estranho uma mulher entrar na área das Exatas, mas acredito que tenha sido um pouco mais confortável para eles e para mim eu, de certa forma, ter ingressado pela Educação”, comenta.

A carreira na Astrofísica levou Kelly a instituições de pesquisa internacionais, culminando com o doutorado sanduíche no Observatório Real da Bélgica, o que permitiu a ela trabalhar como pesquisadora no exterior por três anos. Em 2011, a astrofísica iniciou carreira docente no Campus Alto Paraopeba da UFSJ.

A mãe, professora na zona rural e em escolas públicas desde muito jovem, foi um grande exemplo: “Para motivar seus alunos carentes de escola pública a estudar, minha mãe oferecia aulas de reforço em nossa casa, com direito a lanche e voltinhas no seu fusca”, recorda.

Observando e assessorando a mãe, Kelly viveu as primeiras lições sobre a profissão que viria a exercer, aprendendo a reconhecer a importância dessa iniciação em sua carreira: “Foi minha primeira aula de humanização no ensino. Eu corrigia os exercícios dos alunos enquanto minha mãe arrumava algo em casa.”

Kelly no universo da UFSJ
Com a maternidade, Kelly precisou diminuir o ritmo das salas de aula. Foi assim que experimentou outro lado da docência: a dedicação aos projetos de extensão. “O momento me permitiu trabalhar com projetos de extensão voltados à inclusão de mulheres nas Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática”. Seu projeto, “Inclusão das mulheres nas Ciências e Tecnologia”, desenvolvido em parceria com a ONG Greenlight for Girls, teve início em 2011.

Neste trabalho, professora e equipe estimulam as meninas de escolas públicas e privadas a não temer o futuro numa área ainda majoritariamente masculina, mostrando as possibilidades em relação às suas preferências de atuação profissional.

A análise da órbita e espectros de estrelas múltiplas foi a área escolhida por Kelly para pesquisar e orientar alunos em suas iniciações científicas dentro do conteúdo de Astrofísica Estelar. No campo da extensão, além de coordenar o projeto nas escolas, Kelly também é vice-coordenadora do programa em Astronomia Viagem ao Céu pelo Olhar da Ciência. Na sua avaliação, a prática extensionista é uma “experiência de vida”, que “possibilita experiência completa, de vivência diferente da pesquisa.”

Kelly ressalta o desafio que é coordenar projetos de extensão. Como não há formação para a área, os projetos acabam por exigir muito mais do professor, principalmente no que se refere ao gerenciamento de colaboradores vindos de diferentes universos: discentes da graduação, discentes de escolas públicas e privadas, profissionais de instituições públicas, prefeituras, empresas, comunidades.

Entre as dores e delícias da profissão, os pontos destacados pela docente são a dualidade da desvalorização do ensino e do professor, agravadas recentemente pelos ataques constantes à Educação e à Universidade, e a motivação e o sucesso dos egressos, “como prova o bom retorno dos projetos que tenho coordenado, principalmente os de extensão, cujos resultados são mais impactantes”, declara.

Na semana dedicada aos professores, Kelly faz uma provocação interessante a todos nós que já passamos por salas de aula: “Quem é que não tem algo para contar da relação passada ou presente com seus professores?” E enfatiza o papel do profissional da Educação: “Por tudo o que já vi e vivenciei, poderia me atrever a dizer que depois dos pais e avós, os professores são as pessoas que mais afetam nossas vidas.”