Na UFSJ, presidente da Andifes diz "não" ao Future-se

Publicada em 11/10/2019 - Fonte: ASCOM

Lançado recentemente para discussão nas universidades e institutos federais, o Programa Future-se do Ministério da Educação (MEC) é um equívoco em todos os seus aspectos, principalmente ao deslocar o custeio da educação superior pública a uma lógica regida exclusivamente pelo mercado. Essa foi uma das ideias apresentadas em palestra, quinta-feira, 10, no teatro do Campus Dom Bosco, pelo presidente da Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e reitor da Federal da Bahia(UFBA), professor João Sales.
Doutor em filosofia da ciência e autor de livros, Sales veio à UFSJ como palestrante convidado do 17º Congresso de Produção Científica, para abordar o tema “O Future-se e os atuais desafios da universidade brasileira”.
Já de início, o palestrante ressaltou o grave momento por que passam as federais, com a defasagem orçamentária promovida pelo MEC. Comparando dados de 2014 a 2018, o presidente da Andifes falou também brevemente do cenário de instabilidades políticas no Ministério da Educação. “Em cinco anos, trocamos nove vezes de ministro”, lembrou, acrescentando que a crise atual é “forjada” por um governo que acena com o desmanche do sistema federal de ensino superior. “A imagem da universidade pública hoje é ruim, mas eles não percebem o patrimônio que estas instituições possuem. O que se ouve, e é propagado pela mídia, é que a Universidade está em crise, que ela não consegue realizar a expansão necessária ao país. Na ideia deles, não só a universidade está falida, mas os seus retornos à sociedade”, explicou.

Cerco

O reitor da UFBA afirmou que na atual relação MEC e Universidades há um “cerco orçamentário”, que serve de ameaça à existência da universidade pública. Dentro desse cenário caótico, segundo João Sales, o Ministério da Educação apresentou o Programa Future-se, atribuindo ao Programa, diversos adjetivos de modernidade e inovação enquanto proposta, passando a ideia de uma solução para uma “universidade inoperante, perdulária e ultrapassada”.
A total maioria das universidades rejeitou a iniciativa ministerial. Para o dirigente da Andifes, as razões são várias, a começar pela concepção do Future-se. “O nome do Programa - “ Institutos e Universidades empreendedoras e inovadoras” já guarda uma grande contradição da iniciativa. “A universidade é multifacetada, tem uma maneira distinta de se relacionar com ensino, pesquisa e extensão. A lógica dela é a educação, não o mercado. Esse título aí já ataca o tripé indissociável que constitui a Universidade pública”, condenou.
Ao mesmo tempo, Sales ressaltou que o Future-se foi enfaticamente apresentado às universidades como a única salvação do ensino superior público. “O conceito deles é transformar o orçamento, um dos itens da administração universitária, como sendo o mais importante. Mas só que universidade não é negócio”, pontuou o presidente da Andifes.
O dirigente falou também da depreciação do servidor público e do serviço público em geral, promovida pela mídia e com apoio do próprio governo.”É desqualificando quem está à frente da educação, que se consegue o desmanche”, afirmou.
Para João Sales, o Future-se é um conjunto de equívocos: promove a indistinção entre o público e o privado; dá precedência ao privado, por exemplo, pela proposta a Lei Rouanet financiará os museus e centros de pesquisa; privatiza as decisões acadêmicas; abandona políticas públicas antes pactuadas, como o Plano Nacional de Educação; ataca a imagem do serviço público e a representação institucional dos serviços públicos.
Para ilustrar sua fala, o palestrante leu trechos de um editorial recente do jornal “O Globo”, que defendia o Future-se e indagava posicionamentos dúbios do ministro da Educação, e uma matéria da Folha de São Paulo” que questionava a gratuidade e o financiamento público das universidades. “O que está em jogo é um ataque à ideia da Universidade como instituição que é plena, que articula ensino, pesquisa e extensão com autonomia. Quando leio uma proposta como o Future-se, faço-o como reitor da UFBA, com olhos desse reitor. Só a universidade tem a capacidade de articular saberes. É isso que está sendo atacado.”, enfatizou.

Incerto

A palestra reuniu cerca de 200 pessoas, entre estudantes, professores e técnicos. Antes, o reitor Sérgio Cerqueira deu as boas-vindas ao presidente da Andifes. João Sales agradeceu e enalteceu a atuação determinante do reitor da UFSJ na presidência da Comissão de Orçamento da entidade. Após a apresentação do tema, o público se manifestou com perguntas acerca do futuro incerto das instituições federais.

 

	Lançado recentemente para discussão nas universidades e institutos federais, o Programa Future-se do Ministério da Educação (MEC) é um equívoco em todos os seus aspectos, principalmente ao deslocar o custeio da educação superior pública a uma lógica regida exclusivamente pelo mercado. Essa foi uma das ideias apresentadas em palestra, quinta-feira, 10, no teatro do Campus Dom Bosco, pelo presidente da Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e reitor da Federal da Bahia(UFBA), professor João Sales.
Doutor em filosofia da ciência e autor de livros, Sales veio à UFSJ como palestrante convidado do 17º Congresso de Produção Científica, para abordar o tema “O Future-se e os atuais desafios da universidade brasileira”.
Já de início, o palestrante ressaltou o grave momento por que passam as federais, com a defasagem orçamentária promovida pelo MEC. Comparando dados de 2014 a 2018, o presidente da Andifes falou também brevemente do cenário de instabilidades políticas no Ministério da Educação. “Em cinco anos, trocamos nove vezes de ministro”, lembrou, acrescentando que a crise atual é “forjada” por um governo que acena com o desmanche do sistema federal de ensino superior. “A imagem da universidade pública hoje é ruim, mas eles não percebem o patrimônio que estas instituições possuem. O que se ouve, e é propagado pela mídia, é que a Universidade está em crise, que ela não consegue realizar a expansão necessária ao país. Na ideia deles, não só a universidade está falida, mas os seus retornos à sociedade”, explicou.

Cerco

O reitor da UFBA afirmou que na atual relação MEC e Universidades há um “cerco orçamentário”, que serve de ameaça à existência da universidade pública. Dentro desse cenário caótico, segundo João Sales, o Ministério da Educação apresentou o Programa Future-se, atribuindo ao Programa, diversos adjetivos de modernidade e inovação enquanto proposta, passando a ideia de uma solução para uma “universidade inoperante, perdulária e ultrapassada”.
A total maioria das universidades rejeitou a iniciativa ministerial. Para o dirigente da Andifes, as razões são várias, a começar pela concepção do Future-se. “O nome do Programa - “ Institutos e Universidades empreendedoras e inovadoras” já guarda uma grande contradição da iniciativa. “A universidade é multifacetada, tem uma maneira distinta de se relacionar com ensino, pesquisa e extensão. A lógica dela é a educação, não o mercado. Esse título aí já ataca o tripé indissociável que constitui a Universidade pública”, condenou.
Ao mesmo tempo, Sales ressaltou que o Future-se foi enfaticamente apresentado às universidades como a única salvação do ensino superior público. “O conceito deles é transformar o orçamento, um dos itens da administração universitária, como sendo o mais importante. Mas só que universidade não é negócio”, pontuou o presidente da Andifes.
O dirigente falou também da depreciação do servidor público e do serviço público em geral, promovida pela mídia e com apoio do próprio governo.”É desqualificando quem está à frente da educação, que se consegue o desmanche”, afirmou.
Para João Sales, o Future-se é um conjunto de equívocos: promove a indistinção entre o público e o privado; dá precedência ao privado, por exemplo, pela proposta a Lei Rouanet financiará os museus e centros de pesquisa; privatiza as decisões acadêmicas; abandona políticas públicas antes pactuadas, como o Plano Nacional de Educação; ataca a imagem do serviço público e a representação institucional dos serviços públicos.
Para ilustrar sua fala, o palestrante leu trechos de um editorial recente do jornal “O Globo”, que defendia o Future-se e indagava posicionamentos dúbios do ministro da Educação, e uma matéria da Folha de São Paulo” que questionava a gratuidade e o financiamento público das universidades. “O que está em jogo é um ataque à ideia da Universidade como instituição que é plena, que articula ensino, pesquisa e extensão com autonomia. Quando leio uma proposta como o Future-se, faço-o como reitor da UFBA, com olhos desse reitor. Só a universidade tem a capacidade de articular saberes. É isso que está sendo atacado.”, enfatizou.

Incerto

A palestra reuniu cerca de 200 pessoas, entre estudantes, professores e técnicos. Antes, o reitor Sérgio Cerqueira deu as boas-vindas ao presidente da Andifes. João Sales agradeceu e enalteceu a atuação determinante do reitor da UFSJ na presidência da Comissão de Orçamento da entidade. Após a apresentação do tema, o público se manifestou com perguntas acerca do futuro incerto das instituições federais.