Cerem recebe acervo de Fernand Jouteux

Publicada em 15/03/2019

O Centro de Referência Musicológica José Maria Neves (Cerem) recebe, nesta segunda-feira, 18, a coleção de documentos e acervo musical do compositor francês Fernand Jouteux. A cerimônia de entrega dos documentos acontece a partir das 11h30, na sede do Cerem, localizada na Rua Marechal Bittencourt (mais conhecida como Rua da Cachaça), número 24, Centro de São João del-Rei.

Nomeada como “a Coleção Francesa de Jouteux”, o acervo inclui partituras impressas e manuscritas, recortes de jornais, programas de concertos, entre outros documentos. É o que explica o coordenador do Cerem e responsável pela guarda do acervo, Paulo Castagna. “Embora pequena, a coleção oferece novos documentos à pesquisa sobre esse compositor, ajudando a compreender sua obra e as conexões entre a França e o Brasil”, destaca.

Èugene Maurice Fernand Jouteux (Chinon, 11/01/1866 - Belo Horizonte, 16/09/1956) foi um compositor, arranjador e regente francês que morou em Tiradentes entre 1938 e 1956. Ingressou no Conservatório de Paris em 1884, sendo aluno do compositor Jules Massenet. Ainda em 1892, visitou o Brasil pela primeira vez.

Residiu na cidade argelina de Orã em 1910, quando exerceu o cargo de diretor na Escola Municipal de Música. No ano seguinte, mudou-se para Garanhuns (PE). Em 1938, passou a residir em Tiradentes na companhia de sua esposa, Magdeleine Aubry. Permaneceu no Brasil até o momento de sua morte.

Entre os destaques de sua obra, está a ópera “O sertão”, composta durante a década de 1910. Na França, ficou conhecido graças ao oratório sacro “Bellator Domini”. Produziu peças de música sacra, música de câmara e arranjos para coral, além da “Symphonie Brésilienne, a Tiradentes: apothéose symphonique”.


Um francês em terras brasileiras
No Brasil, Jouteux compôs sua obra mais célebre, a ópera “O Sertão”, inspirada em “Os Sertões”, de Euclides da Cunha. Para angariar fundos necessários à execução da peça, Jouteux juntou-se ao barítono suíço Rudolf Wyss, com quem realizou uma grande turnê pelo país, partindo de São Luís (MA) e chegando a Porto Alegre (RS).

De acordo com o registro do Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes, a turnê passou por importantes cidades brasileiras: Fortaleza, João Pessoa, Salvador, Maceió, São Paulo e Rio de Janeiro. Em Minas Gerais, apresentou-se em São João del-Rei, Juiz de Fora e Ouro Preto, entre outras.

De acordo com Paulo Castagna, há poucos registros de suas atividades no país, mas é sabido que o francês produziu mais quando morou em Pernambuco. Já acumulava 72 anos de vida quando se mudou para Minas Gerais. “Aqui, ele produziu muitos arranjos de suas peças para formações locais. As corporações musicais do Campo das Vertentes tocaram várias de suas obras sacras, mesmo após sua morte”, informa.

Jouteux foi também coordenador do Conservatório de Música Sanjoanense, atualmente conhecido como Conservatório Estadual de Música Padre José Maria Xavier. “Ele teve alunos de várias cidades da região, para onde às vezes se deslocava para ensinar”, conta Castagna. Seu mais importante aluno de orquestração foi Adhemar Campos Filho, de Prados, que por um tempo trabalhou como arranjador na Rádio Nacional do Rio de Janeiro.

Paulo Castagna defende que essa coleção pode estimular a realização de pesquisas em fontes históricas, já que os estudantes brasileiros estão mais acostumados a pesquisar em fontes bibliográficas e digitais. “O Cerem possui estrutura para receber materiais semelhantes e se posicionar como instituição apta a acolher acervos musicais desse tipo e, com isso, subsidiar a pesquisa musicológica no país”, complementa.

O Centro de Referência Musicológica abriga também os acervos do maestro José Maria Neves, a Coleção Tarcísio Nascimento Teixeira, a Coleção João Onofre de Souza e os arquivos Presciliano e Firmino Silva.