Pesquisas da UFSJ comprovam discriminação por gênero no mercado de trabalho e no comércio

Publicada em 16/01/2019 - Fonte: ASCOM

Diferenças no emprego e nos produtos direcionados às mulheres são apontadas por estudos do curso de Ciências Econômicas

Quanto ganha uma mulher no Brasil atualmente? E como ela gasta seu dinheiro? Essas perguntas foram feitas por pesquisadoras do curso de Ciências Econômicas da UFSJ, que estão analisando a presença da mulher no trabalho e comparando os preços de produtos vendidos para o público feminino. As estudiosas analisaram dados relativos ao gênero feminino no mercado de trabalho entre 2012 e 2017 e compararam preços de produtos divulgados a esse público em lojas on-line.

Coordenadora de ambas as pesquisas, a professora Daniela Raposo passou a se interessar pelo recorte de gênero desde o início de sua trajetória acadêmica. A pesquisadora iniciou seus estudos incomodada com a diferença salarial de 20% existente no Brasil e pôde constatar que o fato ocorre em ocupações diversas e sem distinção de qualificação: “Na questão educacional, os dados apontaram que a mulher tem se escolarizado mais, mas tem mantido essa diferença salarial. Quando a gente percebe isso, observamos que existe claramente uma discriminação no mercado de trabalho por gênero”.

Apesar de mais qualificadas, as mulheres ainda apresentam uma taxa de rendimento menor e são mais afetadas pelo desemprego. Os dados são apontados em uma análise feita pela professora durante o período de 2012 a 2017. “Em 2017, as taxas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) apontaram que a participação dos homens no mercado de trabalho é de 57%, enquanto a participação das mulheres é de 42%”, avalia. A professora explica que os empregadores entendem o período de licença maternidade como um obstáculo à produtividade: “Quando um empregador toma a decisão de desempregar, ele opta por quem traz menos produção e a licença maternidade ou qualquer outra porosidade relacionada torna a mulher uma preferência maior de desemprego”.

A situação é pior no caso das mulheres negras. A dupla opressão de machismo e racismo acarreta maior taxa de desemprego e valores menores de rendimento em relação a mulheres brancas e homens brancos. O fato faz com que surjam outras alternativas entre elas, uma vez que o acesso ao ensino superior é menor entre a população negra. “Com a crise, podemos observar que muitas dessas pessoas conseguiram se escolarizar e se manter no mercado de trabalho porque viraram empreendedoras”, explica a professora. Apesar de viável, o empreendedorismo também está intrínseco ao nível de escolaridade, o que leva muitas delas a postos de trabalho de menor remuneração, como empregadas domésticas e babás.

Além de salário menor e a dificuldade de ocuparem postos de emprego, as mulheres acabam gastando mais. É o que aponta o projeto “Discriminação de preços segundo gênero: uma análise da diferença de precificação de produtos voltados ao público feminino no Brasil”. Motivada por uma aula sobre Teoria do Consumidor, a estudante Laura Amaral procurou a professora Daniela com o objetivo de analisar a pink tax, uma diferenciação de preços baseada no gênero que é pouco abordada na academia brasileira: “Me marcou muito um vídeo em que a Ellen DeGeneres fala da diferença entre os preços da caneta bic para mulheres e homens, mas eu nunca tinha parado para reparar aqui no Brasil. Então, eu comecei perceber e a fazer uma análise comportamental das mulheres com base na Economia e falei com a Daniela para desenvolvermos uma pesquisa”, conta.

A estudante analisou serviços e sites de lojas para comparar preços como os de lâminas, camisetas e bicicletas com base na plataforma Consumer Affairs. Além da dificuldade de encontrar roupas básicas voltadas para as mulheres, Laura observou que os produtos considerados femininos custam mais: “Mais da metade do que eles descobriram tinham diferença - o feminino era mais caro - e a maior diferença é o corte de cabelo. Esse era o percentual mais alto”. Segundo a aluna, as empresas entendem que as mulheres estão dispostas a pagarem mais, o que não é comprovado na prática: “Nós utilizamos uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) que mostra que as mulheres dão prioridade a contas principais e consomem menos que os homens. No início, as mulheres compram por marca, mas, depois de um tempo, por custo-benefício”.

Assim, muitas mulheres deixam de comprar o produto de cor rosa destinado exclusivamente a elas. A restrição colocada pela publicidade tem a mesma linha de raciocínio de que a mulher dá sempre prioridade ao que é belo. “Na embalagem feita para os homens, está escrito que o produto é eficiente. A propaganda para as mulheres é voltada para a beleza. Essa é uma maneira patriarcal de encarar a mulher como frágil”, aponta a professora Daniela.

Os estudos representam uma importante contribuição para a situação das mulheres no Brasil. Os dados analisados comprovam mais pontos da realidade que ainda sofrem interferências do sistema patriarcal, uma situação alertada pelas mulheres e que ainda não é levada em consideração por grande parcela da população brasileira: “Eu espero conseguir provar que essa história de que a mulher pode pagar mais é uma construção social”, defende Laura.