Aula inaugural marca início de especialização em causas indígenas

Publicada em 12/11/2018

Foi dada largada para o curso ‘Mundos nativos: saberes, culturas e história dos povos indígenas”, do Núcleo de Educação a Distância da Universidade Federal de São João del-Rei (Nead/UFSJ). No último sábado, 10, no Auditório do Campus Santo Antônio, a palestra “Histórias e culturas indígenas no Brasil: passado, presente e futuro dos mundos nativos” marcou o início da especialização.

O curso oferece 150 vagas distribuídas por cinco polos de Minas Gerais: Confins, Passos, São João del-Rei, Conselheiro Lafaiete e Sabará. Esse novo curso de especialização chega ao Nead/UFSJ com o objetivo de atender aos professores da rede pública, procurando compreender o amplo e complexo processo histórico dos povos indígenas do Brasil, tomando em conta sua atuação, a partir das relações interétnicas estabelecidas com outros agentes (administrativos, governamentais, missionários, movimentos sociais, entre outros).

A coordenadora do curso, Maria Leônia Chaves de Resende, explica que é a primeira vez que o Nead/UFSJ oferece uma especialização com a questão indígena como o “epicentro”, ressaltando também a relevância de se estudar essas questões. O curso, explica, tem o desafio de discutir o Brasil, multicultural e pluriétnico, que conta com uma diversidade extraordinária de povos indígenas. “No entanto, infelizmente, a grande maioria dos brasileiros pouco sabe sobre esses povos nativos, resultando em boa medida no desconhecimento e equívocos a respeito dos saberes, culturas e história dos povos indígenas, imperando distorções, preconceitos e estereótipos alarmantes disseminados na sociedade brasileira”.

Leônia destaca ainda que a especialização é “bastante estimulante e inovadora”, porque apresenta um leque de disciplinas que envolvem a formação em diversas áreas do conhecimento, como história, arqueologia, geografia, direito, ciências, artes, tendo como foco central os mundos nativos. “Abre, ainda, a discussão e relativização do conhecimento hegemônico europeu, alegadamente universal, ao colocar em questão outras formas de saberes como a dos indígenas. Desta forma, ajudam a ‘descolonização’ do conhecimento, que é construído a partir da exclusividade da matriz ocidental. Coloca em xeque a supremacia do pensamento ocidental-moderno, oferecendo aos alunos a experiência de outras ontologias, epistemologias ou saberes. O conceito de ‘perspectivismo ameríndio’, que caracterizaria a forma indígena de conceber a realidade, é um bom exemplo de outros modos de perceber o real, uma antípoda do cartesianismo/positivismo tão típico do Ocidente”, complementa.

Ao todo o curso teve mais de 700 inscritos, cerca de quatro por vaga. A carga horária é de 360 horas e o término está previsto para 2020.

Patrimônio cultural

Segundo os registros do IBGE, há 305 etnias indígenas, com 274 línguas diferentes. Os índios são quase 900 mil, correspondendo a 0,47% da população do país, sendo que um terço vive nas cidades e o restante em áreas rurais. Grande parte está concentrada nas aldeias, em 689 Terras Indígenas.

O legado desses povos é um patrimônio cultural do Brasil e da humanidade. A Lei 11.645/2008, que exigiu o ensino de história e culturas indígenas nos currículos escolares, é uma das iniciativas para a superação necessária e urgente dessa lacuna ao contribuir para o reconhecimento e a inclusão das diferenças étnicas dos povos indígenas, buscando re/pensar o Brasil em sua sociodiversidade.