III Encontro GSDH: pela saúde das mulheres lésbicas e bissexuais

Publicada em 05/09/2018

Evento promovido pelo Negah abordou o cuidado a mulheres que amam mulheres

“Direitos caminham junto com visibilidade. Então, quanto mais visibilidade, mais direitos”. A frase é da professora Isabela Saraiva de Queirós, do curso de Psicologia da UFSJ, coordenadora do Núcleo de Estudos em Gênero, Raça e Direitos Humanos (Negah) que organizou, em parceria com a professora Cássia Beatriz Batista e Silva, do Departamento de Medicina, o III Encontro Gênero, Saúde e Direitos Humanos (III GSDH). Realizado na última sexta-feira, 31 de agosto, no Auditório do Campus Dom Bosco, o evento reuniu três mulheres lésbicas atuantes na área da Saúde, para debater a precariedade de cuidados às mulheres que se relacionam com mulheres. 

A discussão teve início com a fala da médica Renata Carneiro Vieira, que levantou a questão dos cuidados oferecidos às mulheres lésbicas e bissexuais pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo pesquisas apresentadas pela especialista em Gestão em Saúde e Atenção Domiciliar, 60% das mulheres não revelam que são lésbicas ou bissexuais nos consultórios do SUS, sendo que a maioria o revela por iniciativa própria. “A gente precisa se capacitar para falar sobre isso também. Precisamos refletir sobre como estamos fazendo, sobre o que estamos reproduzindo, sobre como enxergar opressões e, principalmente, saber falar sobre elas”, alerta.

Renata comentou, também, a existência da Política Nacional da Saúde Integral LGBT e a Cartilha Mulheres Lésbicas e Bissexuais: Direitos, Saúde e Participação Social redigida em 2013 - políticas necessárias e ainda escassas. Uma das causas dessa lacuna é a não abordagem do tema nas graduações: “Estudando saúde da família, saúde integral e abordagem biopsicossocial, nunca havia recebido nenhuma informação sobre essa questão”, comenta.

Rita Helena Borret analisou criticamente a invisibilização da população LGBT desde a graduação dos profissionais da Saúde. “Fui percebendo o quanto precisava aprender sobre aquele público, porque eu tinha a minha experiência pessoal, mas muito pouco acúmulo para conseguir atender e procurar respostas.” Supervisora acadêmica do Programa Mais Médicos e preceptora de Saúde Coletiva da residência no Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ, a médica destacou a presença de mulheres negras no evento, no qual se deteve sobre os conceitos de interseccionalidade, identidade de gênero e sexualidade. Ao fim de sua intervenção, Rita Helena abordou os crimes de ódio enraizados no preconceito de gênero e orientação sexual. “A mudança vai demandar muito tempo, mas temos que discutir o tempo todo essas questões, para estimular as mudanças.”

Assim como a saúde física, a principal barreira para um atendimento integral à saúde mental da população LGBT é o fato de as relações entre pessoas do mesmo sexo serem consideradas “problema”, como defendido pela terceira integrante da mesa de debates do III GSDH, Letícia Gonçalves, psicóloga e presidente da Comissão de Ética do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais. “Muitas mulheres relatam que, quando têm relação com outras mulheres, sentem muito prazer e muita culpa.”

Ao final das palestras, foi ressaltada a importância do evento como espaço de fortalecimento e propagação de informações, uma vez que os preconceitos estão calcados na falta de conhecimento de uma sociedade feita de opressões. “A retomada de modelos de explicação do indivíduo, dos sujeitos e das sociedades que estão muito alinhados, por exemplo, a um fundamentalismo religioso e sem nenhum receio do quanto isso produz de adoecimento ou injustiça para as pessoas”, avalia Letícia.