Saúde da mulher lésbica e bissexual é tema de seminário na UFSJ

Publicada em 30/08/2018

Evento aborda em suas palestras questões invisibilizadas na área da saúde

Trazer à tona os problemas acarretados pelo preconceito é mais uma das ações que a Universidade pode promover a favor do combate à desinformação. É nesse sentido que está sendo organizado o III Encontro Gênero, Saúde e Direitos Humanos da UFSJ. Com temática voltada para a saúde das mulheres que mantém relações bi e homoafetivas, o evento acontece nesta sexta-feira, 31, às 8 horas, no Auditório do Campus Dom Bosco.

A ideia partiu das bolsistas do projeto de extensão "Cuidado de Mulheres que Gostam de Mulheres: uma intervenção na atenção primária à saúde do município de São João del-Rei", que perceberam a necessidade de dar visibilidade a questões específicas dessa população que, apesar de estar suscetível às mesmas doenças que as mulheres heterossexuais, carece de um tratamento mais humanizado por parte dos profissionais da saúde. Assim, as estudantes de medicina Bruna Schipmann e Júlia Brandi promoveram a discussão em parceria com o Núcleo de Estudos em Gênero, Raça e Direitos Humanos (NEGAH) e o Núcleo de Sáude Coletiva (NESC).

Responsável pela coordenação do NEGAH, a professora do curso de Psicologia Isabela Saraiva de Queiroz explica que nem todos profissionais da saúde entendem as particularidades dessas mulheres: “É comum, entre mulheres que não têm relações sexuais com homens, relatos de que não tiveram seus exames continuados, não fizeram o exame ginecológico completo”. Assim, a maneira como essas mulheres são acolhidas, ou mesmo o não acolhimento, gera um afastamento delas do sistema de saúde e o aumento da possibilidade de contração de doenças.

São poucos profissionais da saúde que fazem perguntas relativas à orientação sexual em seus consultórios e, em certos casos, não terminam o exame ginecológico quando a paciente alega que não pratica atividades sexuais com penetração. “Há um risco aumentado de se desenvolver algumas doenças e não serem identificadas, até mesmo um câncer de colo de útero, porque o cuidado e o acompanhamento é menor, sendo que o risco biológico é igual”, explica a estudante de Medicina e bolsista do Negah, Bruna Schipmann.

Quando o acesso a informações é precário, esse cuidado tende a ser ainda mais difícil, “e é por isso que é importante a participação de outros públicos além do acadêmico e o de profissionais de saúde para sensibilizar a comunidade em geral a respeito do tema”, justifica a bolsista Julia Brandi. A estudante de Medicina aponta, ainda, a necessidade de produção científica acerca do tema, e um exemplo disso é a ausência de preservativos para a relação sexual entre mulheres: “O exemplo que fica mais claro é que não existe o esforço de pesquisa para desenvolver um método de barreira específico a essa população”, completa.

UFSJ pela saúde da mulher

O Núcleo de Estudos em Gênero, Raça e Direitos Humanos reúne há um ano professores da área da saúde da UFSJ em prol das pautas relativas às populações de mulheres, negros e LGBTQI. Em quinzenas alternadas, o grupo promove discussões teóricas entre a comunidade acadêmica e um grupo de trabalho, em que são propostas ações de intervenção na região.

Também contribui para a promoção da saúde da mulher em São João del -Rei o projeto de extensão Cuidado de Mulheres que Gostam de Mulheres: uma intervenção na atenção primária à saúde do município de São João del-Rei. Criado a partir de uma disciplina optativa sobre gênero e direitos humanos, ofertada por Isabela aos estudantes de medicina, o projeto de extensão evoluiu a partir do trabalho final que abordava a saúde da mulher bissexual.

Com a admissão na Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários, as bolsistas promoveram uma roda de conversa com essas mulheres, com o objetivo de tomarem conhecimento do universo delas: “A partir dessas rodas de conversa, obtivemos as demandas e experiências que temos passado para os profissionais da atenção primária de São João del-Rei, por meio de um zine, um material informal de fácil acessibilidade tanto de linguagem quanto de custo”, detalha Schipmann. No meio desse caminho, prossegue a bolsista, “resolvemos fazer um evento para fomentar essa temática entre os alunos e profissionais de saúde, para que haja mais visibilidade”.

Conheça as mulheres que irão compor o debate do III Encontro de Gênero, Saúde e Direitos Humanos:

Letícia Gonçalves
Tem experiência na área de Psicologia Social e Saúde Coletiva, atuando principalmente nos seguintes temas: saúde das mulheres, aborto, gênero, violências contra as mulheres e formação em saúde. Atuou como supervisora de pesquisa no Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) e no Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (PROVAB), do Ministério da Saúde. É presidente da comissão de ética do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais e membro da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO).

Renata Carneiro Vieira
A convidada é Graduada em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em Gestão em Saúde, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em Saúde da Família pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e em Atenção Domiciliar pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Titulada em Medicina de Família e Comunidade pela Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. Já ministrou curso sobre Atenção à Saúde de Mulheres Lésbicas na Atenção Primária.

Rita Helena do Espírito Santo Borret
Graduada em Medicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2012), atualmente é preceptora do programa de residência médica em Medicina de Família e Comunidade pela Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro. Supervisora acadêmica do programa Mais Médicos para o Brasil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e preceptora de saúde coletiva do programa de residência do IESC da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Discute a Saúde da População Negra e Saúde das Mulheres.