Extensão e meio ambiente: quando Universidade e comunidade se encontram

Publicada em 15/12/2017

Atividades extensionistas da UFSJ contemplam questões ambientais e promovem o contato entre o espaço acadêmico e a sociedade

A universidade é um espaço em que teoria e prática caminham juntas. Por meio de eventos, palestras ou discussões, as ideias que ali surgem ultrapassam seus muros. Atravessam o espaço acadêmico e encontram a comunidade.

Uma das formas de realizar essa travessia são as práticas ambientais. É a partir do entendimento do conceito de meio ambiente que programas e projetos surgem para transformar o espaço e a sociedade. E pela extensão - um dos pilares do trabalho das universidades - que essas ideias se concretizam.

A extensão universitária contempla uma gama de iniciativas, envolvendo projetos, programas, cursos, eventos, prestação de serviços, elaboração e difusão de publicações e de outros produtos acadêmicos. É esse o braço da universidade que leva estudantes, professores e técnicos ao contato com bairros e associações das cidades e regiões alcançadas.

A Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) marca presença na comunidade com a implementação de projetos em diversas áreas, inclusive de meio ambiente. Para a chefe do Setor de Extensão da UFSJ, Simone Bassi Parentoni Lana Cardoso, trata-se de uma troca: “Levamos o conhecimento da academia, por meio dos alunos e docentes, e a comunidade traz de volta, para nós, um saber próprio e popular”. Segundo ela, a extensão, além de contribuir para a formação do estudante, faz com que a comunidade se mobilize para resolver os seus problemas.

Dos 135 programas e projetos da extensão da UFSJ ativos hoje, 21 contemplam questões ambientais. Meio Ambiente é uma das oito áreas temáticas de abrangência do setor - as outras são Comunicação, Cultura, Direitos Humanos e Justiça, Educação, Saúde, Tecnologia e Produção e Trabalho -, definidas pelo Plano Nacional de Extensão. Dessas 21 iniciativas, oito atuam em São João del-Rei. As demais se dividem entre os campi de Divinópolis, Ouro Branco/Congonhas e Sete Lagoas. O órgão responsável pela gestão dessas atividades é a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Proex). As ações acontecem em bairros, escolas e dentro da própria universidade, atendendo a públicos diversos.

O pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UFSJ, professor Ivan Vasconcelos Figueiredo, acredita que os programas e projetos de extensão com a temática do meio ambiente mais do que fornecem uma cidadania plena: eles auxiliam na construção do cidadão e fortalecem a interação com a sociedade. “Permitem que as pessoas entendam melhor as formas de relação e atuem melhor com o meio ambiente, de forma sustentável”, complementa.
Agricultores familiares

Valorizar e qualificar a agricultura familiar é o que pretende um dos projetos de extensão da UFSJ relacionados a meio ambiente, o “Ações para promoção de cidadania e agregação de valor de alimentos para agricultores familiares na microrregião do Campo das Vertentes”, iniciado em abril de 2017 pelo Departamento de Zootecnia.

O bolsista Gabriel Lincoln Vieira Passos, estudante do curso, mergulhou fundo para entender melhor como funciona a agricultura familiar e os selos de qualidade e normas que envolvem essa atividade, para que o projeto pudesse ajudar os agricultores a obter a Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (DAP).

Podem buscar o DAP agricultores familiares, pescadores artesanais, agricultores, silvicultores, extrativistas, quilombolas, indígenas, assentados da reforma agrária e beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário. Até agora, com apoio do projeto, 25 produtores conquistaram a certificação, que lhes permite ter acesso a uma série de políticas públicas, como crédito rural e assistência técnica, por exemplo.

Além disso, está em andamento a confecção de modelo de rótulos para inserção do Selo da Agricultura Familiar nos produtos desses agricultores. Criado pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário, o Selo identifica os produtos frutos da agricultura familiar, responsável pela produção da maioria dos alimentos consumidos diariamente.

Doce como mel

A paixão pela apicultura, nutrida desde a infância pelo professor Deodoro Magno Brighenti, criou asas e voou. Hoje, ele coordena o programa de extensão “Associativismo para o fortalecimento da apicultura na microrregião de São João del-Rei”, criado em 2012, que enfatiza a relevância da atividade desenvolvida com as abelhas por 50 apicultores do município e da região. A finalidade é proporcionar aos apicultores a facilidade em obter produtos e informações sobre a atividade, além de mostrar a crianças e adultos a importância da apicultura no contexto econômico e ambiental.

A bolsista Florência Palharine, no projeto há três anos, explica que os produtores recebem cursos de manipulação de produtos apícolas e participam de seminários sobre o tema. O programa atua, também, em escolas da rede municipal e particular, com crianças de variadas faixas etárias, e também com os idosos, a fim de conscientizá-los da importância do mel e do própolis para a saúde.

Áreas recuperadas

Os esforços para recuperar pastagens degradadas em terrenos de pequenos produtores rurais de São João del-Rei e região estão dando resultados. O projeto de extensão “Estratégias para gerenciamento e recuperação de pastagens degradadas em pequenas propriedades leiteiras no Campo das Vertentes” começou em 2011, no Departamento de Zootecnia.

A coordenadora do programa, professora Janaina Azevedo Marcelo, explica que a região de São João del-Rei tem boa parte de sua movimentação econômica pautada pela cultura bovina leiteira. A maioria das propriedades são minifúndios com pequena produção de leite, cujos terrenos apresentam pastagens degradadas. É aí que o programa entra em ação.

O primeiro passo tem sido visitar os proprietários e fazer um diagnóstico do terreno, seguido de coleta e análise do solo. Os bolsistas do programa estudam o resultado da análise para definir o tipo de recuperação mais adequada àquela área e partem para a mão na massa, ou melhor, na terra, caso o produtor tenha condições de arcar com o custo. “Como não fica barata, a recuperação, muitas vezes, é feita pouco a pouco. A taxa de aceitação dos produtores é de 25%”, comenta Janaina, que acrescenta: “A extensão na área agrária deve ser vista com carinho, pois o produtor rural é carente de tecnologias. Quando funciona, eles têm outra energia para conduzir a propriedade”.

De acordo com a coordenadora, o programa obteve, ao longo dos anos, resultados positivos. Muitos produtores rurais nunca haviam feito uma análise de solo e realizavam o manejo de modo inadequado. “Agora entenderam o que é melhor fazer para ter um resultado mais favorável”, observa. “O melhoramento do solo da propriedade resulta num terreno de qualidade melhor. Além disso, os animais terão mais alimentos, resultando em aumento da produção.”

Produtos sustentáveis

Desde 2016, crianças, jovens e adultos que frequentam o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Santa Cruz de Minas têm a oportunidade de aprender sobre como produzir, consumir e vender produtos sustentáveis. A prática acontece na horta localizada ao lado do Cras, em terreno disponibilizado pela Prefeitura. Caixas de leites e jornais foram arrecadados para a confecção de mudas nas oficinas e instalação do viveiro.

Para facilitar o trabalho, o pessoal recebeu um curso de produção de mudas, ministrado pela agrônoma e mestranda do Programa Interdepartamental de Pós-Graduação Interdisciplinar em Artes, Urbanidades e Sustentabilidade da UFSJ (Pipaus), Grazyella Moreira.

A iniciativa integra o projeto de extensão da UFSJ “Uniterra: Incentivo a práticas agroecológicas tendo em vista a diversificação da produção familiar em São João del-Rei, ano 2 - Avicultura agroecológica e horta Mandala”.

Segundo a estudante de Zootecnia e bolsista do projeto, Hebiene Laiane da Silva Lobo, Santa Cruz de Minas apresenta grande demanda de produção de alimentos sustentáveis, atividade que não encontra muito espaço nos centros urbanos. A aluna enfatiza como é gratificante compartilhar os conhecimentos ambientais com os participantes. “Essas práticas são importantes para a conscientização e formação de mentes voltadas para a preservação do ambiente”, ressalta. "Além disso, mostra como é importante o trabalho em grupo, que faz toda a diferença”, complementa.

Todas as sextas-feiras, o site de notícias da UFSJ traz o Comunica Extensão, com novidades sobre as ações extensionistas da nossa Universidade. Acompanhe!