Professor da UFSJ estava na Estação brasileira na Antártica que incendiou

Publicada em 28/02/2012

“ Eu estava na cozinha da estação, conversando com outros pesquisadores que também estavam por lá. É normal, depois de um dia de trabalhos, os pesquisadores e militares se reunirem na sala principal, que fica ao lado da cozinha, para conversar, ver tv e preparar algo para comer. Estava na cozinha quando a luz se apagou. Em seguida, entrou a energia da bateria e a luz voltou. Como o alarme de incêndio não soou, achamos que havia sido apenas uma queda normal de energia. Mas, dali a um minuto, o César, pesquisador do Rio Grande do Sul, entrou dizendo que havia fogo na estação. O chefe da estação ouviu e disparou o procedimento de combate de incêndio. Conforme o previsto nestes casos, todos os militares foram combater o incêndio, cada um em seu posto, e todos os pesquisadores se concentraram na sala principal. Fizemos uma chamada, e alguns pesquisadores estavam ausentes. Corremos para os camarotes e acordamos os que faltavam. Refizemos a chamada e constatamos que todos estavam lá. Aos poucos fomos saindo para a área externa da estação para acompanhar o combate ao incêndio. Como ele não estava sendo controlado, aos poucos fomos nos direcionando a um módulo que fica a uns 200 metros do prédio principal e ficamos lá aguardando. Quando amanheceu, achamos que o incêndio havia sido controlado, pois não havia mais chamas. Porém as chamas voltaram em seguida, mais fortes, e agora atingindo a área de convivência da estação (cozinha, sala e camarotes). Em seguida chegaram os helicópteros chilenos”. O relato é do professor do Campus Sete Lagoas, Juliano de Carvalho Cury, um dos pesquisadores brasileiros atuantes no projeto “ Impacto das Mudanças Globais no Antártico”.
Doutor em Agronomia (Microbiologia Agrícola) pela USP e colaborador do Instituto de Biologia da UFRJ, Cury estava na Estação Antártica Comandante Ferraz, desde o dia 5 deste mês, e permaneceria no local realizando pesquisas de campo até o próximo domingo. O incêndio encerrou tragicamente a expedição científica na Baía do Almirantado.
Resgate
Segundo ele, os primeiros a prestar socorro foram pesquisadores poloneses, que chegaram em botes. “Eles haviam avistado o fogo, pois a estação deles fica do outro lado da enseada. Levaram o Medeiros, com ferimentos nas mãos. Em seguida chegaram os helicópteros chilenos”, lembra o pesquisador. O resgate foi completado por um avião argentino que chegava para buscar seus pesquisadores e que conduziu o grupo de brasileiros a Punta Arenas, no Chile. Na cidade portuária chilena, os brasileiros embarcaram para o Rio de Janeiro, onde chegaram na madrugada de domingo.
Além da morte de dois colegas da Marinha, com os quais conviveu na Estação, Juliano lamenta que os experimentos de todos os pesquisadores desta operação antártica foram afetados no incêndio. “Além de perdermos todo o material do trabalho realizado nesta expedição, foram perdidos também muitos equipamentos e a própria estrutura da estação, os trabalhos futuros da estação também estão prejudicados, acredito que pelo menos nos próximos quatro ou cinco anos”.
Apesar da tragédia, Luciano afirma que o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) continua. “Ainda existem alguns módulos no entorno da estação que estão intactos. Além disso, são feitas pesquisas no interior da antártica com pessoal acampado e contamos com a estrutura de dois navios de pesquisa, que podem se dirigir para a região no verão antártico e servir como base para as atividades de pesquisa”, prevê.