Mulheres na pesquisa e na pós-graduação: valorização, inserção e permanência

Publicada em 10/08/2023

A mesa-redonda realizada na tarde do dia 9 de agosto, no II Simpósio de Pós-Graduação da UFSJ, trouxe para a pauta o cenário atual de participação das mulheres na Ciência, reforçando a importância de que essa seja uma caminhada coletiva. Com a apresentação do Parent in Science e da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC), discutiu-se a forma com que diversas instituições têm apoiado as mulheres, com destaque para questões de maternidade e raça e as conquistas e desafios na UFSJ em relação às mulheres na Ciência.

Presentes, as professoras Rosângela Hilário, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e do Comitê Executivo da RBMC; Leticia de Oliveira, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do Núcleo central do Parent in Science; e Érika Lorena Fonseca Costa de Alvarenga, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfofuncionais  da UFSJ (PPGCM).

O evento está disponível on-line, no YouTube.

O debate
Rosângela Hilário abriu a sessão ressaltando o fato de que ser mulher na Academia é estar exposta a uma violência quase endêmica, e que para a mulher negra, isso é um fato ainda mais escancarado. A professora trouxe a reflexão sobre o que chama de “mulheridades”, para dizer da diversidade de mulheres que temos hoje nas universidades. “Precisamos prestar atenção nas pessoas e entender que elas têm especificidades. Queremos paridade de mulheres negras, indígenas, trans, periféricas e com deficiências. Não podemos permitir as violências cotidianas sem punição.”

A importância da ancestralidade, memória e história, o respeito ao sagrado, à natureza e ao conhecimento, foram temas na voz da professora Rosângela. Ela também sugeriu algumas estratégias na solução dessas questões. “É necessário ter um olhar diferenciado para trajetórias diferenciadas, já que todas as pessoas têm que caber nas universidades e ter condições de se desenvolver. E começarmos a cumprir o que está na lei, ou seja, 30% dos espaços federais precisam ser ocupados por pessoas pretas. Racismo não é bullying, racismo é crime.”

Leticia de Oliveira trouxe questões sobre equidade de gênero, como a baixa representação em cargos de liderança e nas áreas exatas e tecnológicas (nas quais as decisões são tomadas) e em áreas decisivas e de alta remuneração. Ressaltou que o fenômeno acontece de forma geral, em muitos países e em diversos setores, não só nas universidades.

A professora falou sobre as pesquisadoras mães e mostrou a pesquisa que o Parent in Science apresenta sobre a queda na taxa de publicação dessas mulheres, alguns meses após o nascimento dos filhos. “É um resultado esperado e o que precisamos é de políticas compensatórias para que as mulheres não sejam "expulsas” da Ciência e nem da Academia.”

Letícia discutiu como a avaliação do currículo em concursos ou em programas de pós-graduação devem ser trabalhados de forma diferente e como os movimentos e os coletivos são fundamentais para que as mudanças aconteçam. “Nós mulheres precisamos estar juntas. Quanto mais diversidade e afeto, nas redes de apoio e acolhimento, mais alcançaremos nossos espaços.”

Érika Alvarenga apresentou dados e debateu sobre sobre as conquistas e desafios na UFSJ em relação às mulheres na Ciência. De acordo com a professora, a pós-graduação na UFSJ tem avançado em pontos relevantes com relação à inserção feminina. “Para que isso se implante precisamos do apoio institucional e a UFSJ tem trabalhado para isso por meio de comissão com discussões muito produtivas para a inserção da parentalidade e maternidade nos processos seletivos. Todos os programas estão adequando seus regimentos internos e fazendo todas as alterações necessárais.”

Além disso, Érika falou sobre as ações de políticas de ações afirmativas aprovadas na UFSJ em 2002. “A UFSJ tem buscando a implementação efetiva das inserção das “mulheridades” e de todas as pessoas em situação de vulnerabilidade. Porém, as discussões não param aqui, e para melhorarmos e progredirmos ainda mais nesse assunto, as comissões devem ser instituídas e ocuparem todos os espaços.”

Saiba mais
Parent in Science
O grupo formado por cientistas mães e cientistas pais surgiu com o intuito de ampliar a discussão sobre a maternidade e a paternidade no universo da Ciência do Brasil, uma questão que, até então, era ignorada no meio científico. Propõem ações que visam preencher um vazio, de dados e de conhecimento, sobre uma questão fundamental: o impacto dos filhos na carreira científica de mulheres e homens em diferentes etapas da vida acadêmica. Suas ações levaram a mudanças concretas no cenário científico brasileiro. Hoje, diferentes editais de financiamento consideram os períodos de licença-maternidade na análise de currículos.

Rede Brasileira de Mulheres Cientistas
A Rede Brasileira de Mulheres Cientistas nasceu em 23 de abril de 2021, com a proposta de desenvolver estratégias de ação no contexto da pandemia da covid-19. Cerca de quatro mil pesquisadoras de todas as regiões do Brasil assinaram a carta em defesa da Rede. Em dois anos de atuação, a RBMC vem promovendo debates a partir da perspectiva de gênero e de raça, desenvolvendo projetos e articulando parcerias para contribuir na construção de uma sociedade equitativa.