Artigo de grupo de pesquisa da UFSJ é publicado pela Nature

Publicada em 26/04/2023

Efeitos sistêmicos da tolerância oral no reparo ósseo. Esse é o título do artigo publicado este mês no portfólio da revista britânica Nature, um dos mais influentes veículos de divulgação científica do mundo. A autoria é de um grupo de pesquisa da UFSJ, formado por docentes e estudantes ligados ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfofuncionais (PPGCM), que conta com pesquisadores da USP e UFMG. A equipe comemora não só os excelentes resultados da pesquisa, mas também a visibilidade ao trabalho conjunto, decorrente da recente publicação em nível mundial.

Cicatrização óssea
Segundo a líder do Grupo Pesquisa e Inovação em Reparo Tecidual dos Sistemas, professora Erika Costa de Alvarenga, do Departamento de Ciências Naturais (DCNAT), a equipe foi formada recentemente, apesar de um dos membros, a professora Cláudia Rocha Carvalho (UFMG), já trabalhar há mais de três décadas com os efeitos sistêmicos da tolerância oral, em parceria com a professora Raquel Alves Costa (DCNAT) e outros pesquisadores. Com vasta experiência no estudo e pesquisa em biologia do tecido ósseo, a professora Erika afirma que a junção da expertise dessas pesquisadoras resultou no projeto de pesquisa que originou o artigo.

Desde a sua formação, esse grupo de pesquisa da UFSJ publicou diversos trabalhos demonstrando que o fenômeno da tolerância oral pode melhorar o processo de cicatrização da pele por atuar diretamente na inflamação. “Uma vez que não havia trabalho em tecido ósseo associado à tolerância oral, decidimos investigar se haveria alguma influência no processo de cicatrização óssea”, explica.

O trabalho que resultou no artigo publicado começou com a dissertação de mestrado do pesquisador Bruno Henrique Costa, hoje doutorando no Programa de Pós-Graduação em Bioengenharia (PPBE), e foi continuado com o trabalho do também mestre Alisson Kenedy; ambos concluíram suas pós-graduações no PPGCM em 2021 e 2022. Os resultados iniciais da pesquisa foram considerados impressionantes, por aumentar consideravelmente a formação óssea no local da lesão apenas sete dias após cirurgia. “Avaliamos a dinâmica do processo de cicatrização óssea por 45 dias, demonstrando que esse aumento da formação do novo osso no local da lesão é de um tecido com uma qualidade melhor, quando comparada ao osso que não recebe nenhum tratamento, o que foi comprovado pelos ensaios mecânicos e raio-X realizados na USP em colaboração com o professor Antônio Carlos Shimano, e por tomografia computadorizada”, ressalta a pesquisadora.

Processo de divulgação
De acordo com a professora Erika, o desenvolvimento do trabalho foi todo delineado pensando no que havia de recursos disponíveis nos laboratórios na UFSJ e no auxílio dos pesquisadores colaboradores para uma publicação em periódico indexado de qualidade. “A escolha da Nature se deu mediante o ineditismo e relevância dos resultados da pesquisa, que nos surpreendeu”, revela.

Após a submissão, o grupo aguardou alguns meses para a primeira resposta dos revisores com perguntas consideradas muito pertinentes e enriquecedoras. “Os autores trabalharam arduamente na produção da carta resposta, que é um ponto chave, e nas modificações solicitadas na versão final. Foi um processo longo: entre a submissão e o aceite foram nove meses, sete deles para recebermos a primeira resposta dos revisores”, relembra.

Tolerância oral
A tolerância oral é um fenômeno já estudado e observado desde 1911. Uma proteína ingerida por via oral presente em nossos alimentos, ao ser aplicada por outra via de administração, como uma injeção, tem a produção de anticorpos específicos para essa proteína e outras respostas celulares inflamatórias reduzidas. É essa propriedade, explica Erika Alvarenga, que leva à ativação do sistema imunológico de uma forma diferente do que ocorre quando há uma inflamação aguda que, como consequência, promove modulação de redução do processo inflamatório agudo em todo corpo.

A comunidade científica vem se desdobrando para desenvolver tratamentos eficazes e de baixo custo para o reparo ósseo, já que as fraturas acometem milhares de pessoas todos os dias e os gastos públicos com o tratamento são elevados. Após uma fratura ou mesmo cirurgia óssea, o local da lesão é acometido por hemorragia e ocorre recrutamento de diversas células inflamatórias para que o osso seja cicatrizado. “O nosso trabalho demonstrou que a injeção de uma proteína da dieta dos ratos (como a zeína, proteína do milho utilizada nesse estudo), no dia em que a fratura ocorreu, pode reduzir a inflamação exacerbada no local da lesão e aumentar a formação óssea com um osso mais resistente. Também comprova efeitos no dia da cirurgia, mas abre espaço para novas pesquisas em reparo ósseo envolvendo os efeitos sistêmicos da tolerância oral em outras etapas do remodelamento de ossos e desenvolvimento de novos tratamentos para reparo ósseo de baixo custo”, esclarece a professora Erika.

Ineditismo e excelência
O artigo produzido na UFSJ foi publicado na revista Scientific Reports, que faz parte do portfólio da Nature. Todas as revistas do grupo Nature são altamente exigentes, com grande rigor na revisão pelos pares. “Cabe ressaltar que um trabalho publicado numa revista de impacto possui várias vertentes científicas, o que demonstra a importância de se trabalhar em equipe, na qual cada membro possui uma expertise em uma área do conhecimento e contribui de forma a somar. Nesse trabalho, vimos isso claramente, pois há pessoas que tem domínio da tolerância oral, outras de reparo ósseo e outras de mecânica óssea, que juntas contribuíram para uma pesquisa inédita e de excelência.

O doutorando Bruno Henrique Costa é o autor da dissertação que serviu de base para o artigo. Para ele, o processo foi muito demorado e bem difícil. Mas, por outro lado, foi uma “alegre surpresa a aceitação da Nature”. Bruno afirma que diante de uma proposta de pesquisa inédita, “o que não faltou ao grupo foi entusiasmo.”

Saiba quem são os autores do artigo
*Professora Erika Costa de Alvarenga (DCNAT), líder do Grupo Pesquisa e Inovação em Reparo Tecidual dos Sistemas, professora do PPGCM e do PPBE
*Bruno Henrique Costa, mestre pelo PPGCM e doutorando no PPBE
*Alisson Kennedy Rezende, mestre pelo PPGCM
*Lais Costa e Gabrielle Fernanda Monteiro Neves, egressas do curso de Ciências Biológicas da UFSJ
*Professor Antônio Carlos Shimano (USP) e colaborador
*Professor Álvaro de Oliveira Penoni, Departamento das Ciências da Educação Física e Saúde (DCEFS), colaborador
*Professora Claudia Rocha Carvalho (UFMG), professora titular do PPGCM
*Professora Raquel Alves Costa (DCNAT) e professora titular do PPGCM