TÍTULO: TEMPO E MEMÓRIA NA OBRA DE ARTE - 2002 A 2003

PROJETO FINANCIADO PELA FAPEMIG

BOLSISTAS DE APERFEIÇOAMENTO

Rafael Soares

Rúbia Soraia Leles Ribeiro

BOLSISTA DE EXTENSÃO

Homero de Souza

VOLUNTÁRIOS

Amanda Cristina Pinheiro

Ana Luiza Nascimento de Assis

Ana Paula Junqueira Pereira

Leandro da Silva Olímpio

Marta Claus Magalhães

Grupo PET – Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia da UFSJ

Em grego obra se diz ergon, termo que, mais do que à obra compreendida como uma coisa pronta e acabada, se refere ao obrar, à atividade desde a qual a obra se faz obra. Ao nos referirmos ao caráter de obra presente na obra de arte, nos referimos antes de mais nada, a esse caráter dinâmico. Caráter que se deve ao próprio tempo que aí, na obra, se deixa pressentir. Tempo que mantém a obra viva, aberta sempre a novas reinterpretações, a novas reapropriações à medida em que o porvir, ao retornar sobre o passado, revela as possibilidades que aí, nesse passado, se mantinham ocultas. Nesse retorno, esse passado é de novo atualizado no nosso presente. É desde esse retorno que a obra é sempre de novo reapropriada, reinterpretada. Assim, a obra de arte é aquilo que se mantém eternamente como algo atual à medida exata em que se preserva como aquilo que é "tão velho como o mundo" – pois que continuamente traz à tona novas possibilidades do passado. Possibilidades que se oferecem, então, como aquilo que existe de mais original, pois que, nos remetem para "as nossas primeiras raízes". Essas raízes, que se deixam apreender nessas possibilidades hauridas do passado, se mantêm "presentes" na nossa memória. Memória que assim, continuamente "preserva" o nosso passado. Mas que tipo de memória é essa que deve preservar o passado que se mostra sempre de novo como algo que deve ser determinado pelo porvir? Essa memória é a memória dos artistas e artesões. Memória que se deixa apreender na obra, no ergon.

O presente projeto de pesquisa e extensão pretende mapear os diferentes estilos arquitetônicos presentes nas fachadas do casario de São João del-Rei. Ao mapearmos os estilos arquitetônicos e identificá-los através de fotos e filmes, iremos fornecer material que irá servir de referência para os artesões nas suas mais diferentes atividades artísticas – atividades que, ao se manterem assim referidas ao "passado" da nossa cidade, irão propiciar uma reflexão prática sobre a necessidade de se preservar o nosso patrimônio histórico. Concomitantemente, iremos produzir material teórico que servirá para promover o turismo da região, favorecendo à comunidade de um modo geral.

Artigo - São João del-Rei


SÉRIE ITINERÁRIOS

 

Ítalo Calvino, em sua obra "As Cidades Invisíveis", nos conta as conversas travadas entre o viajante veneziano marco Polo e o imperador Mongol Kublai Khan. Nessas conversas, marco Polo descreve as fantásticas cidades por ele visitadas que compõem o império Khan. Cidades com nomes femininos que traçam entre si uma geografia extraordinária, que franqueiam o conteúdo imagístico e simbólico compartilhado por todos os homens. Cada cidade de Calvino indica um modo possível de acesso ao imaginário presente qm qualquer cidade – em qualquer tecido social.

Dessa leitura buscamos inspiração para traçar itinerários que pudessem ser trilhados por qualquer viajante (turistas locais, estrangeiros, acidentais), por todo aquele que se dispõe a responder à vocação dos caminhos. Composta por cinco caixas temáticas contendo oito fotografias, a Série Itinerários traça o percurso através da Cidade dos Mortos, da Cidade Oculta, da Cidade das Mãos, da Cidade Alta e da Cidade Baixa – cidades que se calam no dia-a-dia de São João del-Rei. Mais do que simples cartões postais, a Série itinerários se quer um guia de leitura que conduza os viajantes pelos meandros da memória de uma cidade histórica.


  • CIDADE ALTA
  • CIDADE BAIXA
  • CIDADE DAS MÃOS
  • CIDADE DOS MORTOS
  • CIDADE OCULTA
  • EXPEDIENTE

    Realização

    Profª Glória M. Ferreira Ribeiro
    Coordenação e idealização
    Rafael S. de Oliveira
    BAP/FAPEMIG
    Idealização, diagramação e fotografias
    Rúbia Soraya L. Ribeiro
    BAP/FAPEMIG BAP/FAPEMIG

    Consultoria

    Domingos Sávio Silva
    Revelação fotográfica
    Prof.ª Denise da Silva Gonçalves
    História da Arquitetura
    Prof.ª Betânia M.M. Guimarães e Prof. Geraldo Tibúrcio
    Língua Portuguesa

    Apoio:

    Grupo PET - Ciências Humanas, Estética e Arte do Curso de Filosofia da UFSJ
    Homero de Souza - Bols. de Extensão
    GHP Informática - (Mapa)
    Impressão: Twangibella Artes Gráficas Tiragem: 3.000 caixas

    ARTE E CULTURA

    Arte = Téchné

    Por arte entendemos o que pensamento grego compreendia por téchné "Este nome não significa para o grego nem arte nem técnica, mas antes: fazer aparecer alguma coisa como isto ou aquilo, de tal ou tal forma, no meio das coisas presentes." (Heidegger, 1986, p.190) O termo téchné que foi traduzido para o latim como ars, arte se refere a um fazer que implica no surgimento de algo. Por isso, esse termo não pode ser pensado em separado do termo poiesis = produção: a ação de trazer algo à tona. Toda téchné é produtora porque é o fazer (ou, segundo Aristóteles, o saber fazer) através do qual algo vem à presença. O termo arte, assim compreendido, constitui um dos fios com o qual se tece a linha de pesquisa do nosso laboratório. Por isso tanto a obra de arte quanto as atividades artesanais se fazem tema das nossas investigações à medida em que expressam esse tipo de "fazer produtor".

    O QUE COMPREENDEMOS POR ATIVIDADES ARTESANAIS

    Toda atividade produzida manualmente que implica a descoberta ou a criação de técnicas (um saber fazer). Por sua vez, essas técnicas emergem como resposta a uma necessidade nascida de uma dada relação do homem com o seu mundo. Essas técnicas deverão expressar uma relação de obediência (de percepção e compreensão) que se estabelece entre o homem e o mundo, a circunstância, no qual ele se acha inserido.

    O QUE CONSIDERAMOS UM OBJETO ARTESANAL

    Todo objeto criado manualmente com o fim de ser utilizado nas diferentes relações cotidianas do homem com o seu mundo circundante:

    - Com a sua moradia – móveis e objetos utilizados para a composição e construção de uma casa (adobe, pau-a-pique);

    • Com o trabalho – cestaria, balaios, arreios, selas, etc.;
    • Com a beleza – bordados, objetos de toucador, etc.;
    • Com a fé – santos, festas populares e os seus adereços, etc.;
    • Com o lúdico – brinquedos, brincadeiras, etc.;
    • Com o corpo – alimentos, utensílios de cozinha, plantas medicinais.

    O QUE COMPREENDEMOS POR OBRA DE ARTE

    A obra de arte é instauradora de mundo, ou seja: ela deixa e faz ver mundo. Por mundo nos é dado compreender o tecido que se trama com o fio das diferentes relações que o homem estabelece com a sua possibilidade de ser (ser-com-os outros homens, ser-junto-às-coisas, ser-em-função-de-si-mesmo). Por sua vez, o homem nada mais é do que a realização dessas relações, ou seja: um ser-no-mundo. O homem se vê, assim, determinado em sua existência por uma tarefa de ser e fazer-se no mundo. A obra de arte nada mais é do que o espaço privilegiado em que esse caráter da existência humana se evidencia.

    A CULTURA = CULTIVO

    O objetivo último de nossas pesquisas é a cultura. Contudo, por esse termo não estamos compreendendo as manifestações culturais e artísticas de um povo. Quando pensamos em cultura nos referimos ao ato de cultivar as diferentes dimensões das relações que o homem estabelece com o seu mundo. Cultivo e cuidado, eis o que nos interessa.